A Cushman & Wakefield apresentou o seu Marketbeat Portugal Primavera 2021 e, no que diz respeito à hotelaria, a consultora confirma que o setor procurou reinventar-se, adaptando os seus serviços às atuais circunstâncias. Mas, apesar destes esforços, as dormidas nos estabelecimentos hoteleiros diminuíram 65% em 2020, fixando-se nos 20,6 milhões, o que corresponde a pouco mais de oito milhões de hóspedes.
A atual pandemia veio também alterar significativamente o perfil da procura. Por um lado, passou a estar mais alicerçado na procura interna, que perfez 53% das dormidas em 2020, em comparação com 30% no ano anterior. Por outro lado, alargou-se para fora dos principais destinos turísticos, que vinham a ganhar terreno nos últimos anos, com destaque para as regiões do Alentejo e do Centro, que registaram as menores quebras em termos de dormidas, de 42% e 56% respetivamente.
A operação hoteleira registou igualmente significativos abrandamentos, na ordem dos 67% em termos de proveitos totais e de 56% no Revenue per Available Room (RevPAR). A taxa de ocupação por quarto situou-se nos 25,6%, refletindo uma diminuição em 39,5 pontos percentuais (p.p.) face a 2019. A maior recuperação operacional dos ativos hoteleiros foi visível nos meses de verão, chegando a atingir-se 53,6% de ocupação em agosto.
A atividade de Alojamento Local foi também largamente impactada, levando em muitos casos ao reposicionamento do produto para o arrendamento de longa duração, suportado por incentivos fiscais. Ainda assim, a preferência por espaços mais isolados poderá ter contribuído para uma maior resiliência na procura, com quebras na ordem dos 60% nas dormidas nos hóspedes. Já os resultados operacionais registaram quebras semelhantes aos estabelecimentos hoteleiros, com decréscimos de 62% nos proveitos totais e de 52% no RevPAR.
A oferta hoteleira aumentou em 46 novas unidades com cerca de 2.400 quartos, a maioria (36% dos quartos) com classificação 4 estrelas. Entre estas, destacam-se o Four Points by Sheraton Sesimbra (4 estrelas), o B&B Hotel Lisboa Aeroporto (3 estrelas) e o Neya Porto Hotel (4 estrelas).
Relativamente aos projetos futuros, inúmeros operadores optaram por adiar estrategicamente a data de conclusão das unidades em construção por um breve período, aguardando a normalização dos níveis de procura. Adicionalmente, alguns hotéis ainda em fase de projeto ou licenciamento tenderão a ter seus planos de investimento meticulosamente revistos, o que deverá levar a uma contínua revisão em baixa da nova oferta hoteleira prevista até final de 2023, que reduziu ligeiramente, para 207 estabelecimentos hoteleiros com 17.000 quartos. Esta concentra-se maioritariamente em cidades nas duas áreas metropolitanas, nomeadamente Lisboa (4.000 quartos), Porto (2.200 quartos), Vila Nova de Gaia (1.150 quartos) e Cascais (1.050 quartos).
Lisboa
A chegada de 8,8 milhões de turistas ao território nacional por via aérea concentrou-se maioritariamente no Aeroporto Humberto Delgado, que registou 4,6 milhões de turistas desembarcados em 2020, uma contração de 71% face ao ano anterior. Similarmente, as restrições impostas nos portos marítimos limitaram fortemente o turismo de cruzeiros, que registou uma quebra homóloga de 91%, com apenas 50 mil passageiros desembarcados em Lisboa.
De acordo com o INE, a capital terá concentrado 3,5 milhões de dormidas em alojamentos turísticos (incluindo estabelecimentos hoteleiros e alojamento local), dos quais 74% não-residentes. O Observatório do Turismo de Lisboa apresenta uma taxa de ocupação de 29,1% e um RevPAR de €25,5 para as unidades hoteleiras em funcionamento na Região de Lisboa.
Em Lisboa registaram-se 10 novas aberturas com um total de 610 novos quartos. As novas unidades apresentam uma média de 60 quartos, apresentando maioritariamente classificação de 3 estrelas, destacando-se o Holiday Inn Express Saldanha com 105 quartos e duas novas aberturas junto ao aeroporto – B&B Hotel Lisboa Aeroporto com 190 quartos e Stay Hotel Lisboa Aeroporto com 80 quartos.
Prevê-se que mais 43 novos hotéis com 4.060 quartos se somem à oferta atual até 2023, designadamente de 5 e 4 estrelas, que respetivamente representam 35% e 29% da oferta anunciada. Entre estes, destaque para o Radisson RED Lisbon Olaias (4 estrelas) com 290 quartos, o Meliá Lisboa (5 estrelas) com 240 quartos e o Moxy Lisbon Oriente (3 estrelas)15 com 220 quartos.
Porto
A cidade do Porto registou 2,2 milhões de passageiros desembarcados no aeroporto Francisco Sá Carneiro, refletindo um decréscimo homólogo de 66%. Relativamente ao turismo de cruzeiros, a redução no número de passageiros foi mais acentuada, em 93% para apenas seis mil passageiros.
De acordo com o INE, este terá sido o quarto município com mais dormidas, concentrando cerca de 1,3 milhões de dormidas em alojamentos turísticos (incluindo estabelecimentos hoteleiros e alojamento local), dos quais 72% não residentes. O RevPAR na cidade Invicta apresentou uma média de €20,9 por noite, com os hotéis de 5 estrelas a alcançar os €26,5, e uma taxa de ocupação que se situa nos 24,8%.
Ao longo de 2020, a cidade do Porto contou com 10 novas aberturas de unidades hoteleiras que totalizaram 630 novos quartos, maioritariamente de 4 estrelas (58% da nova oferta). Entre estas, destaque para o Neya Porto Hotel (4 estrelas) com 120 quartos e o Holiday Inn Express Porto (3 estrelas) com 105 quartos.
A oferta futura estimada para a cidade até 2023 totaliza 20 novos hotéis com 2.200 quartos, com as unidades de 4 e 5 estrelas a perfazerem 37% da oferta anunciada. De entre as aberturas previstas, destaque para o hotel com centro de congressos promovido pela IME na Rua do Heroísmo com 300 quartos; e para o The Student Hotel, que apresenta um conceito misto de curta e longa duração no
quarteirão D. João I, com um total de 300 unidades.
Perspetivas
A Cushman & Wakefield espera que a oferta hoteleira continue a adaptar-se, diversificando as suas fontes de rendimento através de serviços como espaços de trabalho e coworking, permitindo aos visitantes trabalhar a partir de qualquer local para o qual se viaje, assim como serviços relacionados com a saúde e bem-estar, que passaram a ter uma relevância acrescida. Adicionalmente, antecipa uma recuperação gradual diferenciada, com uma retoma mais sustentada no turismo de lazer comparativamente com o turismo de negócio, à medida que o mundo corporativo reequaciona os custos alocados a este segmento, face à maior adesão aos meios digitais para reunir e participar em eventos.
A consultora frisa que os fundamentais do turismo não se alteraram, e que Portugal continua a destacar-se no mercado internacional não só como um destino de sol e praia mas também de riqueza gastronómica e cultural. Ainda assim, os operadores menos capitalizados sofreram um impacto significativo nesta pandemia e, apesar dos mecanismos de lay-off simplificado e de crédito, mais de 30% dos hoteleiros não sabem se irão reabrir em 2021 ou mesmo de todo, segundo a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).
Tendo em vista o verão de 2021, as expectativas são de taxas de ocupação mais favoráveis face ao ano anterior. Sendo os indicadores ocupacionais hoteleiros o reflexo do ciclo económico e confiança instalada, a democratização dos muito falados passaportes de vacinação nas políticas de viagem deverá contribuir positivamente para esses fatores, relançando o turismo nacional. Ainda assim, a procura deverá representar cerca de 50-60% da registada em 2019.