Pedro de Mello Breyner é vogal executivo da Portugal Ventures, entidade que gere fundos de capital de risco e que tem atividade junto do setor do Turismo. Na empresa desde 2018 e com mais de 20 anos de experiência na área turística, esteve à conversa com a Ambitur numa tentativa de desmistificar o mundo do financiamento. Esta é a 2ª parte da entrevista, publicada na edição 343 da Ambitur.
Em 2022 a Portugal Ventures adicionou 17 novas startups. Quantas destas são de turismo?
Na área de turismo acrescentamos cinco empresas, a TOPO, a Unlock, a Pruvo, a Spinach Tours e a MTI, num investimento total de 4,270 milhões de euros.
Desde o nascimento da Portugal Ventures, em quantas empresas de turismo investiram?
Investimos em 42 empresas no setor do turismo, num montante total de 36 milhões de euros. Estes 36 milhões são investimentos em novas empresas, mas também em empresas em que já participamos: entramos no capital social das empresas e, ao longo do processo, podem precisar de novas ondas de capital, muitas vezes reforçamos o investimento nessas empresas, o que chamamos de facto follow-on investments, em rondas de investimento subsequentes. Este reforço de investimento é muito relevante, sobretudo para os novos investidores que entram porque sinalizam de forma positiva ao projeto. Se estamos a recomeçar é porque acreditamos no projeto e isso ajuda novos investidores a juntarem-se.
Num balanço geral, como funciona a Call Turismo? É uma forma de os candidatos chegarem à Portugal Ventures?
As calls para nós são, sobretudo, um instrumento de comunicação. Estamos sempre disponíveis para olhar para qualquer projeto de investimento, inclusive temos uma iniciativa todos os meses, o Open Day, na qual pode inscrever-se qualquer projeto, em qualquer fase que estiver, pode ser até só uma ideia, e que pode vir partilhar esse projeto e nós damos feedback. Se é um projeto que entendemos que tem interesse para nós e que está ajustado à nossa tese de investimento, depois iniciamos o acompanhamento desse projeto, no sentido de o estimular a apresentar uma proposta de investimento à Portugal Ventures. As candidaturas são submetidas no nosso website, sem prejuízo de promover reuniões prévias à candidatura porque sabemos que a submissão é um processo trabalhoso. Não investimos em todos os projetos que são submetidos, obviamente. Aliás, há uma taxa de concretização que é reduzida, uma vez que somos abordados por muitos projetos, mas gostamos sempre de, previamente à candidatura, reunir com os promotores dos projetos e entender o que são os projetos.
Quais as expectativas para este ano?
As calls são um instrumento de comunicação útil e efetivo porque produz resultado e, por isso, planeamos lançar este ano uma call para o turismo, mais dedicada a projetos não tecnológicos, em que vamos procurar investir em projetos de reestruturação, que podem estar localizados em regiões menos desenvolvidas do território nacional, que sejam economicamente viáveis, liderados por equipas de gestão com capacidade e competência para os executar. Estes projetos podem ser na área do alojamento, da restauração, da animação turística e de agências de viagens, ou seja, em modelos de negócio mais tradicionais. Temos intenção também de lançar para o mercado uma call para projetos que tenham inerente uma lógica de agregação, também nestes subsetores que mencionei – isto com o foco de investir em empresas que possam criar condições de concentração de várias empresas pequenas nestes subsetores que tragam modelos de intervenção que permitam, numa lógica de capital de risco, agregar funções de backoffice, como financeira, compras, gestão de recursos humanos, área comercial, sempre assegurando que os negócios que se agregam mantenham graus de autonomia, mas que lhes permitam alcançar escala, que de outra forma não conseguirão. Esta é uma falha de mercado que temos identificada e, tendo nós a missão de preencher falhas de mercado, lançamos esta call para operações de reestruturação e de build-ups, como se diz na gíria de capital de risco.
Existe um teto de investimento anual?
Nós investimos em empresas desde a fase pré-seed em que já há um protótipo e o nosso papel é ajudar a finalizá-lo e a definir um modelo de negócio para levar o produto ou o serviço para o mercado. Existem muitas terminologias na área de capital de risco e é algo que gostaríamos de desmistificar porque é uma barreira que temos no setor do turismo. Continuando, nesta fase de pré-seed normalmente investimos até 100 mil euros no capital social e aqui com o objetivo de dar à empresa entre 12 a 18 meses para desenvolver o projeto e depois mais à frente levantar uma nova ronda de capital. Em projetos mais maduros, em que já há uma demonstração no mercado de interesse pelo produto ou serviço, investimentos entre 200 mil euros até 1,5 milhão de euros. Não temos um teto máximo de investimentos novos a fazer por ano. O fundo tem liquidez, enquanto tiver liquidez e aparecerem bons projetos estamos disponíveis para investir.
Quem é Pedro de Mello Breyner?
Pedro de Mello Breyner assume funções desde 2018 na Portugal Ventures e conta com mais de 20 anos de experiência no setor do turismo. É licenciado em Gestão de Empresas Turísticas pela Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril e concluiu os Programas de Gestão de Marketing Digital e de Gestão para o Turismo da Católica Lisbon Business & Economics. Foi chefe da Equipa Multidisciplinar de Apoio Especializado às Empresas do Turismo de Portugal, tendo sido diretor do Turismo de Portugal para o Benelux e presidente da Association of National Tourist Offices na Holanda. No Turismo de Portugal, em Lisboa, coordenou as áreas de patrocínios a eventos internacionais, e de operações da promoção turística internacional de Portugal. Exerceu também o cargo de gestor de Produto Golfe, e foi membro das Comissões de Gestão dos Planos de Promoção Conjunta, em representação da Aicep Portugal. Foi ainda professor na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.
Fotos de Raquel Wise.