Geração RH é o nome da nova rubrica que vai poder acompanhar ao longo das próximas semanas em Ambitur.pt. Trata-se de uma iniciativa conjunta da Ambitur e da Bolsa de Empregabilidade que, conscientes da importância cada vez maior que os Recursos Humanos desempenham na hotelaria, e no turismo em geral, pretendem dar-lhe a conhecer o perfil, percurso e dia-a-dia de trabalho de responsáveis e diretores de RH. Hoje estamos à conversa com Isabel Delgado, diretora de Desenvolvimento e Recursos Humanos no Zoomarine Algarve.
Isabel Delgado nasceu em Lisboa, em 1968. É formada em Gestão de Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho e das Organizações. O primeiro emprego foi na agência de viagens Diplomata Tours, no centro comercial Imaviz.
Isabel explica que, depois de trabalhar em duas multinacionais em Lisboa, e por motivos familiares, mudou de residência para o Algarve. E, sublinha, “no Algarve nada mais natural do que trabalhar no turismo”.
Quando começou a trabalhar na atual empresa e como tem sido a evolução?
Em 1997 fui convidada para criar de raiz a área de RH no Zoomarine. Pelo menos no Algarve, por essa altura, poucas eram as empresas que realmente se preocupavam com os RH para além do necessário serviço de payroll. A grande maioria da hotelaria e serviços do Algarve tinha o RH centralizado em Lisboa. Éramos pouco mais de 60 pessoas no Zoomarine e foi um desafio maravilhoso, criar uma estrutura realmente vocacionada para as pessoas numa empresa tão divertida e inovadora.
Em 2010, com o acentuar da crise económica em Portugal, o parque ressentiu-se fortemente porque é uma estrutura muito pesada com elevados custos fixos e elevados custos de operação. Se queríamos sobreviver havia que tornar a empresa o mais lean possível e, mesmo assim, manter o alto desempenho que sempre nos caracterizou e que nos diferencia.
Foi assim que em 2012 o fundador do Zoomarine, Sr. Pedro Lavia, me convidou a assumir, por dois anos, também as direções de Marketing e de IT – Foi um susto!, algumas noites sem dormir a tentar perceber no que me estava a meter… Descobri que afinal era muito fácil, desde que saibamos escutar com atenção e que tenhamos connosco uma equipa de suporte que seja verdadeiramente profissional e comprometida com a empresa. 11 anos passaram e percebemos todos que a empresa não se alicerça em Egos mas em Bom Trabalho de uma Grande equipa, e por isso Prova superada! Hoje, já estou de regresso apenas à área de RH porque é lá que os desafios atuais são maiores.
Qual o seu dia-a-dia na empresa – no fundo, qual o trabalho/funções de um responsável de RH?
A equipa de RH do Zoomarine tem seis profissionais divididos pelas diferentes áreas de abrangência (Recrutamento & Seleção, Formação & Desenvolvimento de Carreiras, Payroll & Benefícios, Serviços Sociais, Saúde Ocupacional e Comunicação Interna). Como profissionais qualificados cabe-me organizar e garantir que têm as ferramentas que necessitam para executar um trabalho de excelência. No mais, o meu dia é principalmente com os restantes gestores e decisores da empresa, um trabalho de orientação e apoio às decisões, ajudar a que as decisões tomadas pelas várias pessoas sejam as mais adequadas em cada momento.
Na minha perspetiva, a mais-valia de um responsável de RH é a facilidade que tem em entender a empresa como um organismo vivo, ter uma visão conjunta das necessidades e dos objetivos para alavancar o crescimento saudável da empresa.
Qual a dimensão da empresa a nível de recursos humanos e como é constituída a orgânica dos quadros do hotel/empresa (em que categorias se dividem os trabalhadores)?
Um parque temático como o Zoomarine tem uma responsabilidade muito elevada, tanto para com as pessoas que o visitam, quanto para com os animais que aqui habitam, e por isso a nossa orgânica é muito diferente daquela que habitualmente encontramos num hotel. Para além da gestão e da operação comuns às empresas de turismo, temos as áreas científica, de investigação, de educação ambiental e de medicina veterinária, todas áreas chave e muito especializadas.
Estamos organizados em diferentes direções: Finanças, Desenvolvimento & RH, Marketing & Comunicação, Operações, Serviços Técnicos, Ciência & Educação, Conservação e Zoológica. Muito embora o parque esteja aberto à visita do público apenas durante nove meses por ano, trabalhamos os sete dias da semana e os 365 dias do ano, sendo necessário manter uma equipa fixa de profissionais altamente qualificados na ordem das 170 pessoas (quadro fixo), já na época estival crescemos para mais de 550 pessoas contratadas diretamente que dão resposta a todos os serviços que o parque disponibiliza.
Quem são os candidatos que a sua empresa procura? Qual o perfil e competências desejados?
Apostamos muito na mobilidade interna e na progressão vertical (ou diagonal) dos nossos profissionais, por isso raras são as vezes que vamos ao mercado recrutar profissionais com provas dadas, preferindo apostar na formação e no desenvolvimento de competências. Sabemos que para muitas das nossas profissões nem sequer existem candidatos já especializados no mercado nacional, motivo pelo qual o perfil que habitualmente desejamos resume-se a pessoas com elevados valores ambientais e um forte potencial de crescimento e de aprendizagem.
Porque devem os futuros profissionais do setor escolher a sua empresa para trabalharem?
Porque, como costumamos dizer, “não importa o ponto onde começamos, importa onde queremos chegar!” e se pudermos realizar os nossos sonhos numa empresa feliz, que faz um trabalho honesto e fundamental para as gerações futuras e que, além disso, valoriza cada pessoa, então é esse o caminho que devemos escolher.
O que a levou a especializar-se e trabalhar na área de RH?
Comecei a trabalhar muito jovem e estudava ao mesmo tempo. Nesse percurso sempre tive a grande sorte de encontrar pessoas absolutamente excecionais que me despertaram o gosto pelos humanos, por trabalhar com pessoas e principalmente para as pessoas. Quando tive de escolher um curso e uma carreira, foi muito fácil.
Que competências considera necessárias para ser profissional na área de RH?
Existe um referencial de competências pessoais que qualquer profissional de RH tem obrigatoriamente de possuir, competências técnicas, comportamentais e sociais. Ainda assim, posso salientar que em 26 anos de responsável de RH, não me lembro de dois dias iguais, por isso a exigência é muito diversificada: hoje somos chamados a participar numa questão fundamental para o futuro da equipa ou da empresa, amanhã tratamos de um tema tão simples como onde colocar um quadro, os mais pequenos gestos são importantes. Diria que um certo sentido de equilíbrio emocional e conseguir ver a Big Picture fazem a diferença.
Qual a mais-valia que um profissional de RH pode trazer a uma empresa turística/hoteleira?
Hoje, não há muitas dúvidas que é fundamental em todas as etapas do processo de construção de uma equipa bem-sucedida a envolvência dos profissionais de RH, desde a fase atrair, desenvolver, a retenção de talentos, até à própria prestação do serviço final (extremamente importante numa empresa turística/hoteleira), uma área de RH competente é de certa forma, a garantia que a empresa tem em ter as pessoas certas, nos lugares certos e com as skills necessárias. Claro que todos gerimos pessoas no dia a dia, isso não é uma prerrogativa apenas da área de RH, mas o RH deve fazer o ajuste das peças do motor para que o caminho se faça em conjunto e de forma harmoniosa. Em turismo não podemos ser apenas bons, temos mesmo de ser excelentes, de superar expetativas, ou o cliente não regressa.
Quais os maiores desafios da sua profissão? O que lhe dá maior prazer e considera ser mais difícil?
Parece-me que o maior desafio, e também o que mais prazer nos traz, é conseguir distanciarmo-nos da Política de RH e dedicarmos muito mais à Filosofia de RH, não me refiro à parte abstrata e metafisica da filosofia, mas sim a verdadeiramente focarmos no estudo do Ser humano, quem são as pessoas que temos, o que realmente elas querem e desejam, e quais são as suas aspirações. Só assim podemos ajudá-las a crescer e consequentemente crescermos todos como um único organismo. É muito gratificante quando percebemos que a nossa ação teve uma consequência positiva na vida de alguém.
Qual considera o maior desafio na área de recursos humanos atualmente?
Sem dúvida o desafio económico, a falta de satisfação de necessidades elementares a que chegámos (crise da habitação, da educação, da saúde e a inflação) como é sabido concorrem muito negativamente para o sucesso dos profissionais de RH. Muitas vezes vemos os gestores de RH numa tremenda competição por atrair talentos, quando isso deveria ser uma escolha natural da pessoa que se candidata. Tenho a convicção que o melhor marketing são mesmo as próprias pessoas da empresa, o brio profissional e a emoção que transmitem quando lhes perguntam o que fazem e porque fazem – passar essa forma de sentir é a melhor coisa do mundo e o maior desafio da área de RH. Mas, para o profissional de RH poder dedicar o seu tempo a construir isso, precisa de recursos que muitas vezes as empresas portuguesas simplesmente ainda não conseguem satisfazer.
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