Na Herdade do Touril, um turismo rural em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, os efeitos nefastos da pandemia já se fazem sentir e o pior, para o proprietário Luís Leote, é que em clima de “incertezas” se tenham de “tomar decisões” sem saber o que o futuro reserva.
O proprietário da Herdade do Touril defendeu no decurso da 1.ª Tourism Talks, da Message in a Bottle, que é preferível ser-se pessimista e “encararmos isto de frente para estarmos preparados para tudo” além de que “os hoteleiros têm capacidade de se reinventar e de se adaptar para perceber como podem trazer mais segurança aos seus hóspedes”.
Na Herdade do Touril sente-se que “as ajudas que existem são limitadas” e o principal problema é que “somos obrigados a ter que decidir coisas sem saber o futuro”. “O próprio lay off, o facto de ter passado de seis para três meses, faz com que não consigamos prever mais sem saber se vamos ter verão ou não” e muitas empresas sem verão, independentemente da região onde se encontrem, não sobrevivem, explica Luís Leote.
O proprietário diz saber que em apenas uma semana a hotelaria pediu três vezes mais empréstimos do que o plafon disponível. Além disso, é preciso “muita coragem para avançar” pois é pedido o “aval pessoal” para candidaturas a apoios e novos investimentos e o compromisso de “manter todos os postos de trabalho até 31 de dezembro” quando não se consegue dar essa garantia.
Luís Leote comenta: “Demorámos muitos anos a formar equipas, os nossos colaboradores, para poderem prestar o melhor serviço e satisfazerem as necessidades de quem nos procura, somos muito bons nisso, e é muito complicado desligar a gestão do negócio da relação familiar que temos.”
Na sua opinião, “não vamos de maneira nenhuma volta ao pico onde estávamos” que já se sabia que “não iria continuar por muito mais tempo e desta maneira porque era um excesso”. O seu maior receio é que quando os hotéis possam voltar a abrir portas se dê início a uma “guerra de preços”. “Tem de haver mais vida para além deste ano e temos que ter essa capacidade e visão”, argumenta o responsável.
O caso da Herdade do Touril
A Herdade do Touril tem 17 anos de história e o proprietário conta que foi feito um “grande investimento” há dois anos pois “acreditávamos onde estávamos e no nosso produto”. Mas neste momento, as dificuldades fazem-se sentir porque “recuperámos tudo sem aumentar o número de quartos porque não era permitido”. A unidade tem poucas camas para os meses de época alta sendo nas épocas baixas que pode obter maior faturação.
Fechou portas a 15 de março e Luís Leote afirma que “só em 15 dias de março tivemos mais faturação do que no mês todo o ano passado”. Ainda bem que se “mudaram as condições do lay off” pois a unidade registava assim um “acréscimo de 20% a 30% de faturação” e não poderia a ele recorrer.
Apesar de todas as incertezas, no Alentejo mantém-se a “esperança” de que estando “mais isolados, não havendo tantas pessoas, será um tipo de turismo que os visitantes vão procurar”. “Em unidades pequenas, como turismos rurais, conseguem ter mais a sensação de segurança”, confia o proprietário da Herdade do Touril.