Ambitur tem estado a falar com as regiões do país para perceber quais os desafios que se colocam neste momento perante a previsibilidade da retoma da atividade turística. Vítor Costa, presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa (ERT-RL) e diretor-geral da Associação Turismo de Lisboa (ATL), admite haver “muitas incertezas” quanto à retoma e ao momento em que poderá ter lugar.
Apesar da evolução dos dados sobre a pandemia em Portugal ser atualmente positiva, as incertezas mantêm-se, e são vários os fatores que contribuem para alguma inquietação, explica o responsável: novas variantes, incidentes e atrasos no processo de vacinação, ameaça de uma quarta vaga, aumento de casos em vários países europeus, dificuldades em ter decisões conjuntas no âmbito da UE, posições irresponsáveis de políticos no Brasil.
Por outro lado, Vítor Costa recorda que não se sabe como ficará a questão do transporte aéreo, “do qual dependemos em absoluto”; nem a curto prazo, devido ao processo da TAP, nem a médio-longo prazo, devido ao aeroporto.
A tudo isto acresce “a incerteza de como ficará o essencial do tecido económico do turismo, muitíssimo abalado com a crise, e se ele terá capacidade para o esforço da retoma“, diz. O que leva a que a Região de Lisboa opte por reafirmar as suas prioridades neste momento: “ultrapassar a pandemia, aguentar o tecido económico do turismo e assegurar o transporte aéreo”.
O presidente da ERT-RL lembra que em janeiro de 2020 tinha entrado em vigor o Plano Estratégico Regional que acabou por ficar em suspenso devido a esta crise pandémica. E “desde então temos de alguma forma «navegado à vista», com grande flexibilidade tática, que é o que nos parece adequado dada a volatilidade e imprevisibilidade com que temos vivido neste último ano”.
Previsões para a região
Relativamente à evolução do turismo na região de Lisboa, este ano, Vítor Costa prevê haver já alguma atividade sobretudo a partir do início do verão, mas não uma retoma verdadeira. “É natural que, numa situação como a que vivemos, se acentue drasticamente a tendência que já se verificava de fazer reservas cada vez mais em cima da hora. É isso que nos confirmam os nossos associado”, frisa.
Já o segmento de MI e eventos, que o diretor-geral da ATL reconhece ser “muito importante para Lisboa”, será “ainda mais afetado porque as decisões sobre a sua realização têm que ser tomadas com antecedência, e a sua realização implica junção de pessoas”,
Vítor Costa explica à Ambitur.pt que o tecido económico do turismo “é indispensável” para assegurar os serviços essenciais e uma “experiência turística rica”. Caracteriza-se por ser muito diversificado e constituído, na sua maioria, por pequenas unidades empresariais. “Se o mesmo não resistir no essencial, o turismo terá que começar do zero”, alerta.
O responsável aborda ainda o facto da versão do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que foi submetida a discussão pública ter “omitido” e “secundarizado” o turismo. “Dá a ideia de que alguns clichês usados à exaustão no debate sobre os «excessos do turismo», que se verificou antes da pandemia, foram assumidos, e deles retiradas conclusões precipitadas”, defende. E aprofunda, dando o exemplo da necessidade de diversificação da economia, quando muitos criticavam a dependência de Portugal do turismo, dado o peso deste setor na economia. “Ora, o turismo ganhou peso por ter tido sucesso, enquanto a nossa base económica tradicional foi sendo destruída, sem criação de novas alternativas”, justifica. E alega que, a melhor forma de resolver este desequilíbrio não pode ser “nivelar por baixo, menorizando o turismo, mas nivelar por cima, desenvolvendo também outras atividades”.
Vítor Costa adianta que passa-se o mesmo em relação à chamada estratégia de “desconcentração” do turismo, “em que se procurou, por ação do Estado, desviar consumidores de um território para outro”. O presidente da ERT-RL não duvida que em breve “constataremos que estas ideias estão desfasadas da realidade e que se vai impor a criação de um plano de salvação que ajude o turismo a ter um papel determinante na retoma”. Este plano, argumenta, não poderá abandonar a oferta instalada nem desprezar a vontade dos consumidores. Ou seja, “não pode ser apenas um plano para limitar os «estragos» que o turismo, como qualquer atividade humana, produz”. O responsável conclui lembrando que esta crise do turismo não resultou de fatores endógenos mas sim do facto “de essa atividade ter, na prática, sido proibida”.