Hoje, são muitas as questões que se colocam ao turismo e são poucas as respostas que podem ser dadas. Em pleno estado de incertezas, o Fórum Turismo “abriu” a sala do “Portugal Tourism Challenges” esta quarta-feira, desafiando vários stakeholders a partilhar conhecimentos e ideias, até porque o mais importante é “defender os interesses do turismo e de Portugal”.

Foi com a questão “O que esperar do mercado de trabalho nos próximos tempos?” que a moderadora Dalila Pinto de Almeida, Owner at DPA Consultoria, começou por evidenciar que o impacto da Covid-19 provou que, na vida, “não controlamos nada”. No entanto, refere que “podemos controlar a nossa resposta àquilo que acontece”. Se o turismo viveu o pleno emprego nos últimos anos, a responsável atenta que os números dão uma perspetiva muito pouca animadora: são “milhões de empregos a serem perdidos”. Partindo para o mercado da contratação, Dalila Pinto de Almeida lançou a primeira pergunta: “Quais poderão ser as profissões (ligadas ao turismo) que vão ganhar maior destaque no futuro próximo?”.
Silvia Nunes, diretora da Michael Page, começa por salientar que, de todas as áreas funcionais que a empresa trabalha, a hotelaria e o turismo foram as primeiras a sentir os cortes: “A estruturas tiveram que encerrar e, em muito pouco tempo, tiveram de cortar custos para conseguir subsistir”.
Numa fase em que tudo o que é hotelaria e restauração está encerrado, a Michael Page tentou perceber junto dos clientes que tipo de funções é que se têm mantido nas atividades, de forma a ter uma rotina de trabalho. No caso da hotelaria, e do ponto de vista do backstage, a responsável afirma que o digital e o ecommerce não pararam: “No imediato, (estas duas soluções) tomaram proporções muito acima daquilo que já têm vindo a tomar” nos últimos anos, possibilitando “manter relações comerciais entre quem compra e quem vende”. O recorrer aos avanços tecnológicos por parte das empresas levam Sílvia Nunes a salientar que, atualmente, há organizações muito mais conscientes sobre as vantagens da tecnologia, podendo “ser usada em prol e em benefício. As empresas são obrigadas a reconhecer que esta é a única forma de manter os negócios ativos”, afirma.
Baseando-se no pensamento de aprendizagem, Sílvia Nunes afirma que muitas empresas conseguiram outras formas de gerar negócio, como é o caso da restauração, onde o regime take-away e delivery são soluções recorrentes e capazes: “Inúmeros restaurantes não tinham este serviço”, exemplifica. A gestora acredita que este tipo de funções pode impulsionar a requalificação dos funcionários em funções como, por exemplo, a entrega de bens nas casas dos clientes, um “serviço que pode assegurar os postos de trabalho”, diz, até porque ter estas valências fará todo o sentido na retoma: “Vai permitir que tenha em simultâneo os meus profissionais de sala mas também os meus profissionais de entrega”. Também o facto de existir alguma esperança de que muitos dos espaços atualmente encerrados voltem a abrir leva Sílvia Nunes a expectar que “muitas pessoas possam retomar o seu posto de trabalho dentro daquilo que vai ser a nova normalidade”. No entanto, caberá sempre aos líderes das organizações tirar deste período “lições e aprendizagem”, algo a que, num primeiro momento, ninguém soube como reagir mas que se souberam “organizar e definir planos de ação”.
Oportunidade para repensar “produto e serviço” na oferta
No futuro, Sílvia Nunes acredita que, a partir do momento em que todos souberem “atuar em segurança” em cada um dos negócios, todas as funções vão voltar a ter a sua importância, não perdendo o protagonismo que têm: “As funções que já existiam vão continuar a ter que existir e a ser necessárias”. O que é expectável que aconteça é que as empresas têm aqui uma oportunidade para repensar “produto e serviço” na oferta. “Se houver lugar, pode levar também à requalificação dos trabalhadores, dando-lhes outro tipo de competências e a formação adequada”, sustenta.
Embora o desemprego possa vir a ser uma realidade, Sílvia Nunes defende um “repensar nas organizações” no sentido de “recolocação de funções”, ou seja, atribuir “outro tipo de funções” ao trabalhador na estrutura empresarial.