O Turismo de Portugal apresentou ontem à tarde o Plano Turismo + Sustentável 20-23, que pretende afirmar Portugal como um dos destinos mais competitivos, seguros e sustentáveis do mundo, através do desenvolvimento económico, social e ambiental em todo o território. Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, recorda que logo em 2020 houve a consciência de que “a sustentabilidade era um foco essencial e devia ser outra vez reforçada”. Daí o lançamento para discussão pública deste plano que conta como objetivos fundamentais “criar o turismo do futuro, que passa pela construção de um setor turístico responsável e contribuir para o Plano Reativar Turismo/Construir Futuro”, explicou.
O Plano Turismo + Sustentável 20-23 baseia-se em cinco princípios orientadores. Por um lado, reforçar as metas da Estratégia de Turismo 2027, e promover a transição energética e a agenda para a economia circular. Por outro lado, o plano pretende envolver os stakeholders num compromisso conjunto, daí ter recorrido ao processo de consulta pública, que ficou concluído em janeiro. Além disso, quer estimular uma mudança de atitude, não só da parte da oferta, mas também na componente da procura, esclareceu Luís Araújo. E, por fim, reforçar o papel do turismo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
“Entendemos que o turismo contribui ativamente, e de forma muito positiva, para os 17 ODS nas cinco áreas que nos tocam: pessoas, prosperidade, planeta, paz e parcerias”, reforçou o presidente do Turismo de Portugal.
Desde 26 de outubro de 2020, altura em que foi lançada uma primeira versão deste plano, foram recebidos mais de 100 contributos até 26 de janeiro, quando a consulta pública ficou finalizada. O responsável adianta ainda que, as 74 ações que estavam no plano original, se converteram em 119 ações. Muitas delas já estavam em curso e, neste momento, 10% das ações já estão concluídas, havendo ainda 48% em curso e 42% de ações futuras.
Luís Araújo apontou como principais metas, para 2023, que 75% dos empreendimentos turísticos tenham sistemas de eficiência energética, hídrica e gestão de resíduos, além de não usarem Plástico de Uso Único. Outro objetivo é que o Selo Clean & Safe chegue aos 25 mil aderentes e 30 mil formados, bem como atingir os 50 mil profissionais com formação nas áreas da sustentabilidade. A última meta é as 200 referências internacionais sobre Portugal associado à sustentabilidade. “São mais um passo naquilo que é a nossa ambição maior: chegarmos a 2027 cumprindo as metas que estão definidas na ET 2027”, sublinhou.
Eixo I: Estruturar
O Plano Turismo + Sustentável 20-23 está organizado em torno de quatro eixos, sendo o primeiro deles “Estruturar”, ou seja, saber como se prepara a oferta para esta componente mais sustentável. Neste âmbito, Leonor Picão, diretora coordenadora da direção de Valorização da Oferta do Turismo de Portugal, trouxe o exemplo do Selo Clean & Safe, uma das primeiras ações deste plano, lançado em 2020 e renovado recentemente, em maio de 2021. “Foi um projeto com um sucesso muito grande, uma enorme vontade de aderir de vários setores e teve aqui o grande foco de dar confiança aos turistas e às populações residentes, ao setor de uma forma transversal”, explicitou. Hoje, o selo conta com 22.610 aderentes, 33.885 formados e mais de 1.200 auditorias. E, com este trabalho, Portugal conseguiu ser o primeiro país a disponibilizar o European Tourism Covid-19 Safety Seal, disponível para todas as empresas aderentes do Clean & Safe desde 1 de junho.
Por sua vez, Teresa Ferreira, diretora do Departamento Dinamização da Oferta e dos Recursos do Turismo de Portugal, lembrou os diversos guias e ferramentas já lançados e que estão disponíveis nas áreas da economia circular (focada na restauração e no alojamento), da construção sustentável (alojamento), da neutralidade carbónica (Alojamento), da redução de plásticos de uso único (alojamento e operadores turísticos) e da eficiência hídrica (campos de golfe). Nasceram assim o Guia de Boas Práticas para uma Economia Circular no Alojamento Turístico, o Guia de Boas Práticas para uma restauração circular e sustentável ou o Guia para a construção sustentável em empreendimentos turísticos, entre outros.
Ainda no eixo da estruturação, Roberto Antunes, diretor executivo do NEST Centro de Inovação do Turismo, apresentou a ferramenta T +, uma ferramenta de autodiagnóstico da sustentabilidade para as empresas, dirigida essencialmente às pequenas e médias empresas no sentido de lhes proporcionar “orientações, oportunidades de melhoria dos seus planos, para que consigam desenvolver algo que, na prática, não é assim tão fácil, a sustentabilidade”. Aplicável a todos os negócios do setor do turismo, a T + ajuda na transição para modelos de negócio mais sustentáveis, oferecendo orientações concretas para melhoria com impacto no negócio, ligações para fácil acesso, curiosidades e exemplos concretos.
Eixo II: qualificar
O segundo eixo do Plano Turismo + Sustentável diz respeito a qualificar os recursos e o conhecimento para esta componente da sustentabilidade. E aqui Ana Paula Pais, diretora coordenadora da Direção de Formação do Turismo de Portugal, interveio no sentido de abordar o papel das Escolas do Turismo de Portugal nesta capacitação. Com 12 escolas a trabalhar com cerca de três mil alunos, não são apenas os jovens que são alvo desta capacitação mas também os profissionais, pois, explica a responsável, ” muito importante capacitar as pessoas que já estão no setor”.
Para os jovens, nos últimos três anos toda a formação assenta em duas unidades específicas no que diz respeito à sustentabilidade: Sustentabilidade no Turismo e Gastronomia Sustentável. Há ainda três unidades curriculares complementares onde se abordam temas de consciencialização social e ética, como o turismo acessível, o intraempreendedorismo, a ética e protocolo empresarial (Código de Ética da OMT).
Já no que se refere à capacitação dos profissionais e das empresas, houve um reforço do número de ações específicas dedicadas à área da sustentabilidade já no ano de 2020. “Este ano de 2021 desenhámos um percurso especificamente centrado e com um objetivo muito concreto de contribuir para a capacitação das nossas empresas nos três eixos da sustentabilidade”, indica Ana Paula Pais. Destaque para o programa Upgrade Sustentabilidade, que conta com 80 horas de formação e que ajuda os empresários a introduzir boas práticas através de muitos exemplos.
Relativamente aos projetos de promoção da sustentabilidade, conjuga-se trabalho curricular com trabalho voluntário, havendo 12 embaixadores para a sustentabilidade nas escolas, que trabalham com as suas comunidades educativas e territoriais. E foram criadas as Redes Territoriais para a Sustentabilidade, onde se prevê trabalhar com crianças.
Ana Paula Pais diz ainda que há já projetos para o futuro. Nomeadamente, a criação de novos cursos, como a gestão sustentável, gestão sustentável de destinos, gestão da restauração sustentável e cozinha 100% vegetal. Além do lançamento da segunda fase do Programa Upgrade em setembro deste ano, e o do reforço das redes territoriais para a sustentabilidade.
Eixo III: Promover
O terceiro eixo do plano prende-se com a forma “como promovemos Portugal como um destino sustentável e como posicionamos Portugal como um dos destinos mais sustentáveis do mundo”, frisa Luís Araújo.
Neste âmbito, Carla Simões, diretora do Departamento de Marketing Territorial e de Negócios do Turismo de Portugal, deu conta de três eixos fundamentais. Por um lado, reforçar a perceção de Portugal como destino sustentável. Aqui foi lançada, em janeiro deste ano, uma campanha na qual Portugal desafia outros destinos a juntarem-se para a promoção do turismo sustentável. Por outro lado, alargar a procura turística a todo o território e ao longo de todo o ano. “Fazer de Portugal um país mais coeso, valorizando a oferta turística em todo o território e ao longo de todo o ano, contribuindo para a sustentabilidade de destinos e empresas, fixação de população e investimento”, explicou a responsável. O objetivo é promover novos produtos e ecossistemas colaborativos e de inovação. “O tema da sustentabilidade estará em todas as nossas ações de comunicação e de capacitação que iremos a fazer a partir de agora, capacitando a nossa oferta turística para este novo desígnio”, garante Carla Simões. Por fim, um último eixo que se prende com promover um turismo e turistas responsáveis, ou seja, explicar aos turistas que, na sua visita, têm que incorporar estes objetivos da sustentabilidade.
Eixo IV: Monitorizar
O quarto e último eixo do Plano Turismo + Sustentável 20-23 relaciona-se com a monitorização. André Tomé, gestor de Projetos no Turismo de Portugal, explicou que existem duas áreas de atuação: uma primeira diz respeito à monitorização do desempenho para a sustentabilidade no setor do turismo, com a estruturação da rede de observatórios de turismo sustentável, monitorização de indicadores de sustentabilidade ao nível dos destinos, monitorização do desempenho ambiental das empresas do setor e relatório anual de sustentabilidade do Turismo de Portugal e do setor; e uma segunda área que se prende com a produção de conhecimento e de intelligence em matéria de sustentabilidade. Nesta área destaque para uma plataforma de coprodução de conhecimento na área do turismo, a integrar no Travel BI com enfoque na sustentabilidade, bem como para a definição da capacidade de carga turística dos territórios para efeitos de planeamento territorial, além de um projeto piloto de monitorização da visitação turística nas área sprotegidas para avaliação da capacidade de carga, e da dinamização de networks internacionais para divulgação das boas práticas em Portugal.
O Plano Turismo + Sustentável 20-23 pode ser consultado aqui.