Apresentar uma descrição sobre o estado do turismo foi a missão de António Brochado Correia, Territory Senior Partner da PwC, na conferência realizada ontem, Dia Mundial do Turismo, pela CTP, em Coimbra. E, depois de 50 anos a crescer, com médias de 5% a 6% ao ano, a verdade é que o turismo mundial regressou 30 anos atrás, sofrendo um forte impacto provocado pela pandemia de Covid-19. E se assim foi no mundo, também o foi na Europa, com as projeções do orador a apontarem para que “só em 2024, em termos europeus, poderemos assistir a volumes de crescimento comparáveis com 2019”.
Comparando maio de 2021 com maio de 2020, a Croácia foi o único país a apresentar crescimento, isto porque, explica o responsável, foi o primeiro país a pôr fim à quarentena para cidadãos vacinados e também por questões relacionadas com a disponibilização de dados, para que a Oxford Economics pudesse fazer o cálculo das entradas turísticas no país. Mas, de uma forma geral, neste período, todos os países decresceram entre 70% a 90%, isto até maio de 2021.
Portugal não escapou à regra, com uma quebra significativa no turismo e no número total de hóspedes. Comparando o período de janeiro a julho de 2020 com iguais meses deste ano, verificou-se uma estabilização da entrada de turistas, variando consoante as regiões. A componente doméstica apresentou uma expressão significativa e aqui Espanha quase a fazer parte desta componente, pela proximidade, e assumindo a segunda posição em termos de mercados. Por regiões, diz a PwC, Lisboa e Vale do Tejo registou um decréscimo, com o Porto e Norte e o Centro de Portugal a manterem-se praticamente inalterados face ao ano anterior, e as regiões do Algarve, Alentejo, Madeira e Açores a crescerem. Os meses de agosto e julho de 2021 foram “bons meses”, confirma António Brochado Correia, apesar de serem ainda negativos se comparados com 2019. Mas “2021 já mostra sinais positivos de recuperação do turismo no nosso país”.
Olhando para a recuperação, a PwC indica que será a componente do turismo doméstico a crescer mais rapidamente, seja no lazer ou nos negócios, com o turismo internacional a recuperar mais lentamente. Neste último caso, aliás, diz-nos o orador, o turismo de lazer só poderá comparar-se a 2019 provavelmente em 2023/2024, sendo que no turismo de negócios ainda não há uma previsão tão fiável, podendo prever-se para 2025/2026, mas sem certezas. Isto porque, explica o analista da consultora, o mercado das viagens de negócios tem dois fatores que funcionam como obstáculos: a habituação das empresas a plataformas desenvolvidas durante a pandemia que permitem o trabalho remoto e virtual, com conferências nessa modalidade; e outro fator, talvez ainda mais importante, relacionado com as metas criadas em termos de neutralidade carbónica. “No caso da PwC, por exemplo, obrigamo-nos a reduzir as emissões e a reduzir em 50% as viagens internacionais”, explica.
Entre as principais novas tendências globais a nível de turismo, que se vêm juntar a algumas que continuam a aplicar-se como a fidelização do cliente, a qualidade do serviço ou a experiência do cliente, António Brochado Correia identifica algumas como a preocupação com a sustentabilidade, a digitalização cada vez maior e a capacidade de comunicarmos melhor o que temos, a nossa marca. É importante verificar que estas tendências são especialmente apetecíveis para uma camada de turistas que hoje pode representar até 50% em alguns países, comoé o caso da Geração Z e dos Millennials.
Por outro lado, o responsável esclarece que estando agora os países num momento decisivo no sentido de saber como será a recuperação, é importante perceber que “o mundo mudou na sua forma de pensar”. Se há 10 anos os riscos globais e preocupações estavam praticamente todos relacionados com questões económicas, hoje surgem novos riscos percecionados como o ambiental, a saúde e o emprego.
Mas a PwC garante que os CEO’s das empresas mostram hoje uma confiança no futuro que já não demonstravam há oito anos, com vontade de crescer, capacidade de recrutar pessoas, otimismo na aceleração e recuperação das economias mundiais. E “Portugal tem aqui uma muito boa oportunidade”, acredita António Brochado Correia, lembrando que teve uma excelente performance a nível da vacinação, e que a saúde é hoje uma das maiores preocupações de quem quer viajar. Pode por isso aproveitar “todo o bom trabalho que fez nesta área e captar mais turismo”. Se é verdade que estamos perante o desafio de todos os países estarem agora a competir por uma maior fatia do turismo, também é verdade que “temos condições para sermos distintivos, temos dados estruturais que outros países não têm, o nosso património, recursos naturais e as nossas pessoas”.