Para assinalar o dia em que iria concretizar o seu XVI Congresso Nacional, a ADHP – Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal realizou uma Webconferência sobre “O Impacto do Covid19 no Turismo e Hotelaria”. Foram muitos os participantes, das diferentes áreas associadas ao turismo, entre os quais a secretária de Estado do Turismo, que acredita que ultrapassar esta crise é como surfar a grande onda da Nazaré e há que resistir, inovar e confiar. Para Rita Marques “precisamos de garantir que as empresas resistam”.
O presidente da ADHP, Raúl Ribeiro Ferreira, começa por refletir que “chegou a pandemia e todas as nossas prioridades mudam” revelando como “tudo é frágil”. No entanto, o responsável acredita que “com a ajuda do Governo e com a sociedade civil a unir-se podemos acreditar que depois deste Estado de Emergência teremos condições de retomar a operação”. A sua esperança é no princípio de maio “começar a preparar a reabertura das unidades”.
A Secretária de Estado do Turismo afirma que “precisamos de garantir que as empresas resistam”, dando as condições necessárias para que isso aconteça pelo que o Governo “continua a trabalhar para que possam ser anunciadas mais medidas”. Rita Marques assegura que o setor tem já “medidas poderosas” ao seu alcance que “tentámos que fossem suficientemente abrangentes e díspares para diferentes realidades”, desde as micro às grandes empresas.
A responsável pela Pasta do Turismo avança que foram feitas quatro revisões ao regime de lay off, com vista à sua melhoria, e que o setor tem ao seu dispor três linhas de crédito divididas pela restauração, hotéis e rent-a-cars e pelos operadores e agências de viagens. Quanto à linha de microcrédito do Turismo de Portugal recebeu já 2.500 candidaturas cuja análise tem sido feita “no prazo de cinco dias”.
Importa também inovar, isto é, “aproveitar o tempo para pensar em como podemos ser mais criativos” para retomar a atividade turística numa altura em que: os padrões de viagem vão-se alterar, com viagens em grupo de menor dimensão e as viagens de negócio (MICE) a ser substituídas por “viagens virtuais” em teletrabalho; novas normas de higiene e a preocupação na flexibilidade da viagem, em termos de seguros, reflete Rita Marques.
Por fim, a SET pede “confiança” aos players do setor porque também os turistas “têm de voltar a acreditar com destinos que lhes ofereçam toda a confiança”. A responsável recorda que o turismo foi fundamental para colmatar a crise financeira de 2008 e que pode voltar a sê-lo, esperando-se uma contração no PIB entre 6%-12% e que pode chegar a 20%.
Será que as empresas vão conseguir resistir?
Mas Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, questiona se as empresas do setor da hotelaria e restauração vão realmente conseguir resistir e se as medidas avançadas pelo Governo e pelo Turismo de Portugal serão suficientes. Na sua opinião, estas consistem em meros “alívios temporários” na medida em que “são apoios que criam endividamento”. A situação é verdadeiramente crítica pois a maioria são microempresas que “mesmo com o lay off não conseguem suportar 30% a pagar sem dinheiro na caixa registadora”.
António Marques Vidal, presidente da APECATE, adianta que 99% dessas empresas têm os sócios-gerentes como trabalhadores e que esses ficam assim sem qualquer tipo de apoio. Na cultura verifica-se o mesmo pois uma das soluções avançada para os trabalhadores em regime de freelance é o “abandono do recibo verde e abrir uma empresa em nome próprio”, contribui Álvaro Covões, vice presidente da APEFE e fundador da Everything is New.
O responsável dos NOS Alive acredita que os festivais de música estão “habituados à segurança”, com regras muito restritas, e que mesmo assim “foram os primeiros a ser proibidos a serão os últimos a abrir”. Para Álvaro Covões, “não faz sentido que o Governo quando começar a abrir a economia, abra uns setores e não dê apoio a outros” pelo que vão ser necessárias medidas suplementares.
Segundo o presidente da APECATE, “a obrigação da Banca, neste momento, é contribuir ativamente para salvar as pessoas e empresas para que também ela consiga sobreviver”. Ana Jacinto sublinha que é preciso “injetar dinheiro na tesouraria das empresas”.
Se resistirem a aposta é a segurança
João Duque, professor do ISEG, alerta que “vamos ter de alguma forma aprender a viver em contágio” e nesse contexto terá de se “reativar a atividade económica com uma alteração de comportamento”. O investigador confirma que o Turismo é o setor mais afetado por esta crise para a qual não existe “histórico” e que 2020 é “um ano perdido” em termos económicos.
Numa nota mais positiva, João Duque deixa algumas ideias-chave para a fase de recuperação do setor turístico: destinos mais seguros serão os que vão ter “mais capacidade para atrair e acolher” os turistas; é preciso receber os turistas internacionais pelo que a segurança tem de começar nos aeroportos e, ao mesmo tempo, apostar no mercado interno que não “abandonou o Algarve mesmo em período de crise”. O presidente do Turismo do Alentejo, António Ceia da Silva, acrescenta que os dois fatores externos mais importantes para o turismo foram sempre “o clima e a segurança” pelo que, agora, a “perceção de segurança” terá ainda mais revelo e será um fator decisivo na escolha de um destino turístico.