Quando chegamos à Serra da Estrela, é impossível conter o espanto pela beleza e singularidade da paisagem. Os desníveis montanhosos impressionantes, a riqueza da vegetação, a austeridade dos grandes granitos, as cascatas, os rios, as lagoas. E os rebanhos de ovelhas que se cruzam nos caminhos. A Serra é isto: tão bela quanto diversa; tão impiedosa como acolhedora, mas é acima de tudo fascinante e surpreendente.
Destino de Natureza por excelência, o maior Parque Natural do país e Geoparque Mundial da UNESCO, é dos poucos lugares onde ainda a podemos encontrar nua e crua, intocada e imaculada, para a absorvermos em todas as suas singularidades seja qual for a estação do ano em a visita. A primavera veste-a de todas as cores e todos os aromas, o verão ilumina-a de verdes inebriantes e refresca-a com o ar em altitude, o outono embala-a nos amarelos e laranjas que vão tingindo os grandes vales montanha abaixo, e o inverno surge de forma dramática a impor o silêncio com os seus grandes mantos de neve que se estendem pelos horizontes como versos de poesia silenciosa.
Mas limitar a Serra da Estrela à paisagem é redutor e quase injusto. O Parque Natural acompanha a riqueza do panorama com uma oferta turística autêntica, onde o luxo se define pelo conforto, pela hospitalidade, e pelo design português que se tece numa cultura secular enraizada naquelas montanhas.
Falamos de dois hotéis com um dos enquadramentos mais interessantes do país: os Burel Mountain Hotels – Casa de São Lourenço e a Casa das Penhas Douradas. Um projeto único e sustentável que conta ainda com a Burel Factory na bagagem como seu elemento agregador; uma fábrica de lanifícios centenária que recuperou a tradição laneira do burel e funciona como um museu vivo com máquinas do século XIX e um saber bem mais ancestral que se experimenta porta dentro. Para visitar numa estadia das unidades hoteleiras.
A Casa de São Lourenço é o único 5 estrelas da região. Concebido nos anos 40 por Rogério de Azevedo e Maria Keil, é agora um hotel moderno remodelado pelo Site Specific Arquitectura e Nuno Gusmão da P-06 Atelier. Um projeto ambicioso que visou a promoção da cultura da Serra através do uso do burel nos interiores, sendo aliás o fio condutor que dá unidade aos múltiplos espaços e ambientes contemporâneos criados. O hotel de 21 quartos todos voltados a sul, funciona como um dispositivo de observação e contemplação, criando uma relação intimista do hóspede com a paisagem a partir de qualquer espaço. Conta ainda com um restaurante completamente panorâmico com uma cozinha surpreendente que visita pratos regionais para os reinterpretar de forma contemporânea sem que percam a autenticidade e o sabor que fizeram perdurar, e um spa de montanha com a mesma vista, onde se podem encontrar tratamentos e massagens que rejuvenescem corpo e alma e nos dão a conhecer sensações até então desconhecidas. Recomenda-se a utilização das piscinas aquecidas comunicantes, especialmente a exterior num dia de neve. Está a 1250 metros de altitude.
A Casa das Penhas Douradas está mais alta, a 1500 metros, mas dista apenas 4 kms do seu irmão mais novo. Hotel charmoso de 4 estrelas, eleva-se na montanha com uma arquitetura alpina única em Portugal. Outrora a primeira estância de montanha do país concebida por Sousa Martins, o hotel nasce em 2010 pela mão de Pedro Brígida com uma arquitetura sustentável enquadrada na envolvente e recurso a materiais locais. Conta com 18 quartos também voltados a sul, um restaurante com cozinha gourmet e um spa onde o tempo se perde no significado. As lareiras no inverno dão-lhe um acolhimento irresistível contextualizado pelo cenário da montanha que se estende nas grandes janelas e onde pode ainda encontrar um museu de ski e uma biblioteca cheia de histórias para se perder.
A Burel Factory surge mais abaixo, no coração da Vila de Manteigas como uma fábrica de histórias de burel, tecido 100% lã endógeno da região, que foi recuperado ao imaginário secular para agora ser sinónimo de design pulsante e criatividade, de cores vibrantes aplicadas a peças contemporâneas que vão da decoração à moda, da arte à arquitetura, enquanto mantém a alma daquela montanha e essencialmente o saber secular da sua gente que o guarda por gerações. Uma arte tão portuguesa, tão especial e tão única. Conta ainda com uma loja onde se pode adquirir aquilo que se vê produzir durante as visitas guiadas que acontecem diariamente.
Voltamos ao topo da montanha em destino aos Burel Mountain Hotels. Ladeados por natureza, silêncio, beleza e ar puro, os hotéis são mesmo um convite à descoberta do território a partir de momentos de grande conforto. Com mais de 250 kms de percursos pedestres para explorar, uma equipa unicamente dedicada a percorrê-los com os hóspedes, e lugares imperdíveis para descobrir lá no alto. Dispõem ainda de passeios de jipe, de bicicleta, caiaque e outras sugestões que surgem em pompa ao longo do ano como é o exemplo da Roda das Faias no Outono…uma das experiências mais belas e comoventes para se fazer. Propostas de atividades que se podem estender pela vasta rede de Aldeias Históricas e Aldeias de Montanha espalhadas pela região, próximas dos hotéis, que se enquadram de forma harmoniosa na paisagem, acomodadas em lugares aparentemente inóspitos com as suas casas distribuídas entre socalcos e sinuosas e estreitas ruelas. Nelas as tradições antigas mantêm-se vivas, e complementam-se com outras tradições seculares da Serra da Estrela como é a transumância no início do verão, altura em que os rebanhos são conduzidos pelos pastores numa procissão de cor pela montanha acima em direção aos planaltos superiores mais frescos. Uma dimensão cultural única e notável.
Os Burel Mountain Hotels – Casa de São Lourenço e Casa das Penhas Douradas são duas sugestões imperdíveis para aproveitar no ainda desconhecido interior de Portugal. Para encher os pulmões de ar puro, a vista de grandes vistas e a viagem de experiências verdadeiramente inesquecíveis.