O XIX Congresso da ADHP, que se realizou no Algarve, entre 30 e 31 de março, debateu a temática “A importância dos Dados para Cenários Previsionais”, num painel moderado por Luís Brites, CEO da Clever.
Fulvio Giannetti, CEO Lybra Tech Intelligent Revenue Assistant, foi um dos oradores deste debate, começando por indicar que alguns estudos apontam para que mais de 600 mil empregos se vão perder a favor da Inteligência Artificial (IA). E, embora alerte para que é preciso ter cuidado com o futuro e com o emprego que as pessoas vão escolher, também esclarece que a IA terá impacto em alguns empregos com funções repetitivas, e que outros serão criados graças à IA. O orador explica que “a indústria da hospitalidade baseia-se na inteligência emocional, na relação entre as pessoas, e isto é algo que não pode ser replicado por nenhuma máquina”, pelo que acredita que “não terá um impacto nos empregos da indústria”.
Por sua vez, Cristina Blaj, CEO & fundadora da Open Revenue Consulting, defende que a tecnologia e a IA vão trazer “mudanças enormes na forma como vamos conseguir fazer evoluir o nosso negócio de uma maneira mais lucrativa”. Isto porque há muitos usos diferentes para a IA no sentido de apoiar os resultados financeiros das empresas. A oradora indica que se considerarmos esta mudança de paradigma, pensando em aumentar o negócio através das receitas e dos quartos, e de gerir as tarifas, a IA já está a ser usada em muitas organizações. Mas defende que “precisamos de olhar mais para o quadro mais amplo e como podemos replicar muitos dos processos que já temos hoje nas áreas de revenue management e de quartos, e aplicá-los a outros departamentos, como o F&B ou o MICE”. Para Cristina Blaj, é importante pensar de uma forma mais criativa em como podemos “recorrer à tecnologia para nos tornarmos mais eficientes mas também sermos capazes de aplicar o nosso conhecimento e know how através da automatização de muitos processos”. E acredita que o F&B é um exemplo de um ativo subvalorizado mas com “muitas oportunidades de ser trabalhado de uma perspetiva do lucro”. Ou seja, perceber qual a margem que é possível ganhar com cada prato, com base na procura, no stock disponível, e como automatizar este processo? “É apenas um exemplo de como podemos transmitir o conhecimento de um departamento para outros”, diz.
Miguel Silva, CEO da MTI – Managing the Intelligence, analisou a questão da importância dos dados para os hotéis, começando por apontar que é fundamental gerir ativos como o sistema de ar condicionado e de aquecimento dos edifícios com base em dados. “Temos de recolher os consumos elétricos do edifício, o consumo de água, a temperatura dentro das salas, a humidade. E podemos adicionar sistemas de IA que podem ajudar a que os dados permitam contribuir para uma maior sustentabilidade”, explica. Estes sistemas de IA permitem, por exemplo, prever como estará a temperatura no exterior nos próximos 10 dias, e qual devia ser o consumo dos equipamentos elétricos. “Se algo está errado, a IA atua de forma automática”, lembra. O que significa que “podemos ter hotéis melhores e mais sustentáveis, com capacidade analítica”. Além de que, os próprios trabalhadores ficam libertos para se dedicarem a outras tarefas como proporcionarem uma experiência melhor ao hóspede. “Todas as partes beneficiam da tecnologia, e o proprietário e gestor vão ter uma maior produtividade”, assegura o orador. Pelo que defende que os dados são essenciais e que os robôs não vão tirar lugar aos trabalhadores, pois não podem criar empatia. Mas não duvida que “o futuro são os dados, a tecnologia com o ser humano”.
Também João Freitas, director of Growth & Partnerships na Host Hotel Systems, partilha da mesma opinião, e lembra que, na maioria das vezes, ao entrarmos num hotel, somos literalmente apenas mais um hóspede. Isto porque “perdemos muitos dados”. É fundamental aproveitar ao máximo “os dados dos perfis dos clientes para poder customizar a sua experiência, a sua estadia, e recebermos assim melhores reviews e obtermos um melhor posicionamento”.