A poucos dias de mais umas eleições legislativas em Portugal, e tendo o turismo a importância estratégica que todos lhe reconhecem, quisemos ouvir os Conselheiros Ambitur sobre quais as prioridades que definiriam para o país e para a indústria turística se fossem os próximos Primeiros-ministros. Jorge Rebelo de Almeida, presidente e fundador da Vila Galé Hotéis, não hesita em afirmar que Portugal só será atrativo se, tal como o turismo, tiver outros setores de atividade a evoluírem positivamente, defendendo ainda o desenvolvimento do interior do país.
Se fosse nomeado Primeiro-ministro este ano, qual a importância na estratégia governativa que daria à atividade económica do turismo, dentro de um contexto de crescimento do país? Como suportaria essa prioridade?
O Turismo é indiscutivelmente um dos principais pilares do desenvolvimento económico em Portugal, com uma quota no PIB em torno de 15%.
Para o turismo, fundamental é, para além de alguns apoios específicos para o setor como a formação, os incentivos ao reinvestimento, linhas de crédito bonificado para financiamento de remodelações, inovações e conservação para mantermos um padrão elevado na oferta, implementar no país reformas que fomentem um desenvolvimento harmonioso da generalidade das atividades económicas.
É importante que o país produza os bens que o turismo precisa para evitar a saída de divisas para comprar esses bens, reduzindo em muito o impacto da entrada das receitas.
Com efeito, o país só será atrativo se a par do turismo outros setores de atividade económica evoluírem positivamente, quer a nível industrial, quer a nível de serviços, quer nas infraestruturas, e se alargue ao interior do país a onda de desenvolvimento.
É importante que o país produza os bens que o turismo precisa para evitar a saída de divisas para comprar esses bens, reduzindo em muito o impacto da entrada das receitas.
o importante é que haja um ministro da Economia com forte peso político, conjugado com uma boa experiência empresarial, transversal a toda a economia e capaz de implementar uma estratégia para o país, coordenando os Secretários de Estado setoriais
Ao nível da tutela, que pasta atribuiria ao turismo (Ministério/ secretaria de Estado/ abrangendo outras pastas)? Que perfil deve ter o responsável pela sua tutela?
Pelo que se acaba de expor, o importante é que haja um ministro da Economia com forte peso político, conjugado com uma boa experiência empresarial, transversal a toda a economia e capaz de implementar uma estratégia para o país, coordenando os Secretários de Estado setoriais.
Simplificação urgente dos licenciamentos e do funcionamento da máquina do Estado, são Designio Nacional.
Reforço da autonomia da Administração Pública Central e Local é fundamental para o período que se avizinha de provável instabilidade governativa.
O turismo não precisa de muito para funcionar bem. Precisa é que se resolvam outros problemas do país, e que se façam as reformas de que tanto se fala
Quais deveriam ser as principais linhas para a evolução turística nos próximos quatro anos?
O turismo não precisa de muito para funcionar bem. Precisa é que se resolvam outros problemas do país, e que se façam as reformas de que tanto se fala, mas pouco se concretizam. Passar a imagem de um país que não funciona é mau para o turismo e, sobretudo, é mau para quem cá vive.
Por exemplo:
- Promover uma reorganização administrativa do território com menos câmaras, maior descentralização de competências e mais meios para funcionarem bem;
- A aposta na ferrovia alargada a todo o território, com óbvias vantagens na redução de assimetrias, para melhorar as acessibilidades e para o clima;
- Recuperar o SNS, cuja situação atual passa uma péssima imagem de Portugal e presta um mau serviço à população;
- Equilibrar a carga fiscal, que é tremenda e sobrecarrega as famílias e as empresas;
- Resolver de uma vez por todas o excesso de burocracia e agilizar os licenciamentos;
- Solucionar o problema da habitação, não com planos que são ‘fogo de vista’, mas realmente assegurando oferta a preços justos e para os jovens, para a classe media e para os mais desfavorecidos, para isso é preciso “construir” soluções e não meras ficções.
- Recuperar os centros históricos e protegê-los da invasão turística;
- Reorganizar as polícias (unificar), de modo que Portugal possa manter a imagem de país seguro de que ainda beneficia, mas que pode estar em risco.
Considera essencial a alteração do papel do Turismo de Portugal?
O Turismo de Portugal, tal como, em geral, toda a Administração Pública Central e Local, precisa de dignificação, simplificação, eficácia, segurança e valorização do mérito de quem nela trabalha e melhoria das remunerações com menos pessoas.
Assiste-se hoje a um receio generalizado de quem tem decisões para tomar. “Preso por fazer e por não fazer”.
O investimento na melhoria da linha férrea Lisboa-Porto de 20% do valor estimado para o TGV, permitiria aplicar o saldo deste valor numa melhoria igual ao sistema ferroviário e da própria empresa que gere este setor
Enquadrando o turismo na restante economia, que prioridades daria ao “Aeroporto de Lisboa”, TAP, TGV e reforço da promoção do país?
Todas essas questões têm de ser debatidas de forma séria, racional e com bases técnicas sólidas, sem o ruído que causam os palpites sem fundamento dos ‘achadores’. Caso contrário, corremos o risco de cometer erros que sairão muito caros. Não se pode perder mais tempo. Veja-se o caso do TGV. Só se fala da ligação Lisboa-Porto. Também precisa de ser melhorada, mas do que devia realmente falar-se era da ligação de Portugal a Espanha e à Europa, essa sim com real impacto económico e vantagens claras na competitividade, na mobilidade e como alternativa às viagens de avião. O investimento na melhoria da linha férrea Lisboa-Porto de 20% do valor estimado para o TGV, permitiria aplicar o saldo deste valor numa melhoria igual ao sistema ferroviário e da própria empresa que gere este setor.
Que outros temas considera pertinentes que fossem colocados em cima da mesa governativa, desde a primeira hora?
É essencial recuperar o tempo perdido e ter um governo enxuto, estável, bem preparado e com coragem política para definir um rumo, tomar decisões e fazer as reformas que tem de fazer. É também preciso que todos nós, sociedade civil e empresas, nos mobilizemos para contribuir para que Portugal se desenvolva e dê o salto de crescimento que tem potencial para dar e não nos limitarmos a dar palpites e a criticar tudo e todos.
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