A poucos dias de mais umas eleições legislativas em Portugal, e tendo o turismo a importância estratégica que todos lhe reconhecem, quisemos ouvir os Conselheiros Ambitur sobre quais as prioridades que definiriam para o país e para a indústria turística se fossem os próximos Primeiros-ministros. Bernardo Trindade, administrador do PortoBay Hotels & Resorts e presidente da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal, considera que o próximo Governo deve contribuir para que o percurso dos últimos anos possa prosseguir, assentando na qualidade do produto e do serviço, e procurando não desperdiçar pedidos de slots de mercados de elevado poder aquisitivo.
Se fosse nomeado Primeiro Ministro este ano, qual a importância na estratégia governativa que daria à atividade económica do turismo, dentro de um contexto de crescimento do país? Como suportaria essa prioridade?
Daria a importância que esta atividade vem entregando a Portugal. Atividade líder no quadro da recuperação da economia portuguesa. Não esquecer que a pandemia há três anos paralisou por completo a atividade turística. Desde essa altura temos assistido a uma recuperação notável, refletindo a confiança com que o mundo olha para Portugal. Em 2023, atingiremos 25 MM de receitas turísticas, há 15 anos atingimos 6 MM. Em 15 anos, crescemos quatro vezes. As dormidas nesse período cresceram duas vezes. Significa que cada dormida entrega a Portugal e aos seus agentes o dobro de 2005.
Até com conhecimento de causa, costumo dizer que um ministério do turismo por si só, tem interesse no dia de tomada de posse.
Ao nível da tutela, que pasta atribuiria ao turismo (Ministério/ secretaria de Estado)? Que perfil deve ter o responsável pela sua tutela?
Até com conhecimento de causa, costumo dizer que um ministério do turismo por si só, tem interesse no dia de tomada de posse. O responsável ficaria no fim da hierarquia do Conselho de Ministros sem ligação a áreas centrais para a boa governação. Se, por outro lado, juntássemos os transportes – procura – e a cultura – oferta – , aí tendo a dizer que tem interesse.
Quais deveriam ser as principais linhas para a evolução turística nos próximos quatro anos?
Continuar o percurso dos últimos anos, assente na qualidade do produto que entregamos, do serviço que oferecemos, procurando não desperdiçar pedidos de slots oriundos de companhias de mercados de elevado poder aquisitivo.
Considera essencial a alteração do papel do Turismo de Portugal?
Não sei o que refere. Tenho pelo Turismo de Portugal uma grande estima. É a autoridade turística nacional, juntando um conjunto de competências vasto sem paralelo no quadro da orgânica da administração pública portuguesa. Somos uns privilegiados.
Só em 2023 não respondemos a slots que correspondem a 1,3 milhões de lugares de avião. Podemos dar-nos a esse luxo?
Enquadrando o turismo na restante economia, que prioridades daria ao “Aeroporto de Lisboa”, TAP, TGV e reforço da promoção do país?
Pela nossa localização, não há turismo sem acessos ao país. Por avião, por carro ou barco, precisamos de infraestruturas que respondam a esses pedidos. O Aeroporto de Lisboa é central nesse movimento. Servindo todo o país, está limitado. Só em 2023 não respondemos a slots que correspondem a 1,3 milhões de lugares de avião. Podemos dar-nos a esse luxo?
A TAP é central a Portugal e ao turismo. Para ganhar escala global, admito a abertura do capital, ainda que o caderno de encargos tenha que contemplar a permanência do Hub em Lisboa
A TAP é central a Portugal e ao turismo. Para ganhar escala global, admito a abertura do capital, ainda que o caderno de encargos tenha que contemplar a permanência do Hub em Lisboa, o olhar para a nossa diáspora e para as regiões autónomas dos Açores e da Madeira.
Num tempo onde o combate às alterações climáticas é mandatório, a sustentabilidade dos meios de transporte é fundamental. O TGV e as suas ligações à Europa constituem uma forma alternativa de mobilidade.
Que outro tema considera pertinente que fosse colocado em cima da mesa governativa, desde a primeira hora?
O tema da imigração. De 2015 a 2023, a força de trabalho imigrante em Portugal passou de 3% para 15%. São hoje mais de 700.000 pessoas. O saldo líquido é de 1500 milhões de euros. Temos de integrar estas pessoas. Dar-lhes mais competências, melhor habitação, melhores transportes.
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