A Ambitur continua a ouvir as visões dos Conselheiros Ambitur. Desta vez é José Luís Arnaut, presidente-adjunto da Associação Turismo de Lisboa, que nos deixa a sua perspetiva sobre o atual momento que o setor do turismo vive.
2022 e os seus primeiros indicadores permitem indiciar uma retoma turística sustentada para breve? Que espécie de retoma considera que se vai verificar? Quais as condicionantes que poderão acelerar a mesma?
Agora que assistimos a um recuo das restrições de viagens e dos números da pandemia, bem como uma aproximação do período de férias de páscoa, verificamos uma retoma do fluxo turístico que Lisboa tão bem conhecia antes da crise pandémica se ter instalado. Paralelamente, muitas das rotinas que foram criadas em pandemia vão continuar a exercer um peso no perfil de consumo de turismo no país. Acredito também que não estamos perante uma mudança radical nos perfis de consumo, mas considero plausível a procura pela segurança, mas sobretudo pela personalização e diferenciação.
[blockquote style=”1″]Verificamos uma retoma do fluxo turístico que Lisboa tão bem conhecia antes da crise pandémica se ter instalado[/blockquote]
Contudo, não posso deixar de referenciar o atual clima de instabilidade geopolítica que se faz sentir na Europa. A guerra na Ucrânia implicou um aumento significativo dos preços e dos custos de contexto e poderá trazer também muitas outras consequências ao turismo que nos são impossíveis de determinar atualmente e que podem ser drásticos para um setor que foi dos que mais sofreu durante os últimos dois anos.
Recursos humanos e aumento de custos de contexto serão os principais problemas no setor para 2022? Que novos desafios se antecipam ou que outros que se podem acentuar?
Estamos, atualmente, perante uma crise de falta de mão-de-obra no setor do turismo. Este problema não é novidade na medida em que a crise pandémica obrigou inúmeras empresas à aplicação de políticas de layoff para dezenas de milhares de pessoas. A par disso, a atual situação de guerra na Europa fez com que os custos disparassem significativamente – tendo também implicações a nível de recursos humanos na medida em que se torna ainda mais complicado contratar pessoas nas condições atuais.
Um grande desafio que vemos aproximar-se é a reposição e o reforço das ligações aéreas para Lisboa, ainda mais numa altura em que guerra na Ucrânia trará implicações adicionais a este nível.
[blockquote style=”1″]Um grande desafio que vemos aproximar-se é a reposição e o reforço das ligações aéreas para Lisboa, ainda mais numa altura em que guerra na Ucrânia trará implicações adicionais a este nível.[/blockquote]
Numa altura de mudança de ciclo político, é necessário um novo fôlego para uma estratégia de turismo para o país? Ou apenas limar o trabalho que tem sido feito ao nível institucional e privado?
A estratégia de turismo do país, bem como todos os seus objetivos e metas, mantem-se em operacionalização independentemente da mudança de ciclo político. A colaboração entre instituições do setor público e privado mantém a finalidade última de capacitação de Portugal enquanto destino turístico de referência e excelência a nível internacional e a recuperação dos valores obtidos pelo setor pré-pandemia. Naturalmente, face às exigências e necessidades do novo contexto, será preciso ir muito mais para além do simples limar do trabalho feito até à data. Desde a redução da carga fiscal à tomada de decisão face ao novo aeroporto de Lisboa, verificamos que ainda existe muita coisa em cima da mesa que merece a devida atenção.
[blockquote style=”1″]Naturalmente, face às exigências e necessidades do novo contexto, será preciso ir muito mais para além do simples limar do trabalho feito até à data.[/blockquote]
Como é possível trazermos uma maior inovação e mais sustentabilidade à atividade turística nacional?
A inovação e sustentabilidade no turismo estão profundamente dependentes do investimento que o setor tem para despender em novos projetos. Neste momento, sabemos que a crise pandémica deixou as empresas turísticas desprovidas das suas fontes de rendimento e, como referi anteriormente, o setor registou elevadas quebras nos últimos dois anos. Perante este cenário, as empresas do setor já reportaram as suas necessidades mais prementes ao Governo, contemplando estas: a redução do IRC; apoios a fundo perdido para a tesouraria e redução do endividamento das empresas; e mecanismos financeiros para novos investimentos e requalificação das empresas.
A solução passa pelo reforço do apoio às empresas privadas do setor. Nesta ótica, o PRR carece de algumas alterações por forma de aumentar a abrangência ao tecido empresarial português, no qual, inexplicavelmente, o Turismo ficou excluído, um setor que representa 15% do PIB, cujo investimento é, sem dúvida, reprodutivo.
[blockquote style=”1″]A inovação e sustentabilidade no turismo estão profundamente dependentes do investimento que o setor tem para despender em novos projetos.[/blockquote]