A Ambitur.pt esteve à conversa com Marcelo Freixo, presidente da Embratur, a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo, para compreender como estão os laços com Portugal e quais são as expectativas para o turismo do país.
Depois da pandemia, como está a correr a promoção do Brasil como destino turístico?
Primeiro dizer que o Brasil livrou-se da pandemia e do pandemónio. A pandemia foi muito dura para todo o mundo, primeiro para a vida e em segundo lugar para a economia. E ficamos livres de um tempo sombrio na política brasileira, que eu chamo de pandemónio, que trouxe muito atraso, muito problema diplomático e ameaçou a democracia brasileira. Mas a democracia venceu, o Brasil voltou e eu acho que agora há uma perspetiva de crescimento e os números já estão a apontar para isso. De janeiro até abril, tivemos 2,7 milhões de turistas estrangeiros no Brasil e está a superar os níveis de 2019. Eles deixaram à economia brasileira 10,7 bilhões de reais. No mês de maio, que não é tradicionalmente um mês forte para o turismo porque não temos grandes festejos, como as Festas Juninas, o Carnaval e o Réveillon, que são os momentos mais visitados do Brasil, tivemos um recorde de lucro com o turismo internacional – chegou-se a 2,7 bilhões de reais, o melhor número dos últimos 20 anos.
Que metas estão a estabelecer para o turismo no Brasil?
A Embratur criou uma gerência de inteligência de dados e tem trabalhado muito com o setor da inovação. Essa gerência é feita por uma professora da Universidade de São Paulo, que é especializada em big data para turismo. Essa inteligência dá-nos uma perspetiva deste ano superarmos o recorde de índice estrangeiro no Brasil, ou seja, passar de 6,5 milhões de pessoas e até 2027 passar os oito milhões de visitantes. Hoje, temos a Argentina como principal país emissor e em segundo lugar os EUA, mas sobre Portugal: já tivemos 357 mil portugueses a visitar o Brasil em 2005 e isso diminuiu, mas começou a crescer no ano passado, chegando aos 75 mil. E queremos retomar o número anterior em um a dois anos.
O acordo de cooperação bilateral assinado em abril entre a Embratur e o Turismo de Portugal já está a dar frutos?
Já. Assinei o acordo em abril, quando vim a Portugal com o presidente Lula da Silva, com o então presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo. É um protocolo de troca de boas práticas e ontem (26 de junho) “esse primeiro filho nasceu” – fizemos um convénio com o NEST – Centro de Inovação do Turismo, que é muito qualificado aqui em Portugal no setor da inovação. Nós abrimos o Embratur LAB no Rio de Janeiro, inspirado no modelo português, e esse órgão fez uma parceria com o NEST para que uma startup brasileira possa ser absorvida e possa trabalhar com o NEST nessas boas práticas.
Qual a importância de Portugal como mercado turístico para o Brasil?
O Brasil é o segundo país emissor para Portugal. Portugal não tem como ser o principal país emissor para o Brasil por causa do seu tamanho, mas cerca de 360 mil portugueses foi um número bastante significativo. Mas temos uma relação afetiva histórica muito profunda, muito singular, temos também a língua e os laços familiares que nos unem.
Temos muitos brasileiros que vêm viver para Portugal e enumeram a segurança como fator de mudança. Esta questão pode retrair os portugueses a viajar para o Brasil?
Tem mais a ver com a sensação de segurança do que propriamente com a segurança em si. 92% dos portugueses que visitaram o Brasil sentiram-se seguros, um número muito alto. Não podemos negar que a questão da segurança existe, porque se fala sobre isso, mas é mais o brasileiro que vem para Portugal do que o português que vai para o Brasil. A questão da segurança não é um impedimento para o crescimento do turismo, é sim um desafio para o população que lá vive.
Como se espera que seja 2023 para o turismo brasileiro?
Com mais expectativa porque em 2022 ainda vivemos a fase final da pandemia. Até há pouco tempo, todos os passageiros aéreos no Brasil tinham de usar máscara, portanto o ano passado foi ainda muito influenciado pelo efeito da pandemia. Em 2023 vai ser a plena recuperação e o mundo quer voltar a viver, por isso acho que há uma reação humanitária que afetará os negócios positivamente.
Qual é o peso do setor turístico na economia do Brasil?
1 em cada 10 brasileiros trabalham no turismo, estamos a falar de sete milhões de empregos diretos e hoje o turismo representa 7,8% do PIB do Brasil. Estou aqui a falar muito dos turistas internacionais, mas o país é muito grande, com mais de 200 milhões de habitantes, portanto a falar do turismo no total, incluindo dentro do Brasil, estaríamos a falar de 70 milhões de pessoas. Aliás, o turismo dentro do país cresceu muito na pandemia porque as pessoas ao não viajar para fora, viajavam lá dentro.
Em termos de conectividade aérea quantas companhias voam para o Brasil? Quais são as principais rotas?
Dentro do Brasil temos três, a Azul, a LATAM e a GOL, mas outras companhias como a TAP e a Iberia fazem voos. Rio de Janeiro e São Paulo são as principais entradas, mas Recife cresceu muito, com um aeroporto na zona Nordeste, como Florianópolis que também tem um aeroporto muito moderno e que está agora a tentar voos diretos da TAP. Há uma perspetiva de crescimento em relação a esses aeroportos.
Mais parcerias poderão surgir entre Brasil e Portugal?
Portugal tem a vantagem de ser a porta de entrada e de saída da Europa e tem uma conectividade muito forte e isso foi muito bem feito pelo governo português, então é importante a conexão com Portugal para facilitar que franceses, alemães, suíços possam visitar o Brasil passando por Portugal ou tenham Portugal como facilitador.
O que o Brasil tem para oferecer aos turistas portugueses?
Os portugueses podem ter o sol e a praia. Eu desafio a que conheçam além disso – conheçam a cultura, que é muito forte, a gastronomia, desde o Pará a Minas Gerais. Temos festejos incríveis, temos o samba, a capoeira, o forró. Eu considero sempre a alegria o principal produto de exportação no Brasil.
Por Diana Fonseca