A pandemia do Covid-19 está a ter impactos em todo o setor do turismo, incluindo em grandes grupos hoteleiros como o Pestana. José Roquette, administrador do Grupo, considerou durante a 1.ª Tourism Talks, da Message in a Bottle, que após cinco anos de “glória” no turismo devíamos estar melhor preparados porque os ciclos acontecem. Enquanto empresários do setor chegou a hora de “construir a capacidade de resistência”.
José Roquette defende que “não estamos preparados” para os efeitos da pandemia no setor e, para o justificar, recorda dados da AHP que avança que, em 405 hotéis, 80% estão encerrados e 94% recorrem a lay off. Embora considere que “o apoio à economia foi decisivo” a curto prazo, o administrador do Grupo Pestana admite que: “É importante termos a noção que os desafios mais significativos vêm depois deste período de lay off porque o Estado não vai ter a capacidade de continuar a apoiar da mesma forma.”
O responsável garante que “todos os apoios que temos agora vão voltar para nós sob a forma de impostos” e aconselha que se comece já a pensar em “grandes incentivos à contratação” visto que “o desemprego vai ser o segundo vírus”. Mas José Roquette também não esquece que, ao contrário do que sucedeu na última crise económica, temos agora um “sistema financeiro relativamente saudável” e “Governos com maior agilidade na reação”.
O administrador do Pestana recorda que “nós tivemos cinco anos de glória no setor do turismo” pelo que “devíamos ter alguma capacidade de enfrentar um momento menos bom”. Para José Roquette “uma das lições a retirar é que temos que estar um pouco mais preparados para este tipo de situações porque elas se podem repetir”. “Os ciclos sempre existiram e sempre vão existir”, prossegue, e enquanto empresários “temos de construir esta capacidade de resistência”. Num setor que “é capital intensivo e trabalho intensivo” estes são os desafios.
O turismo será ainda mais intra europeu
José Roquette afirma que “o transporte aéreo vai ser o tema central para Portugal”, que num primeiro momento será marcado por um problema de confiança a retomar e depois pelo “impacto que isto teve ao nível do panorama do transporte aéreo na Europa”. Na sua opinião, “a quantidade de empresas que vão precisar de apoio vai mudar completamente as regras do jogo” na aviação.
O responsável partilha que antes da pandemia o grosso do turismo era intra europeu e que essa realidade irá manter-se. “Se for resolvido o caos do transporte aéreo, numa primeira fase vai ser resolvido a médio curto na Europa”, ressalva, o que compreende mercados emissores como Reino Unido, Alemanha, Países Nórdicos, França e Espanha. Assim, José Roquette considera que se deve trabalhar primeiro o mercado interno, depois os mercados mais próximos seguidos do médio curto e só depois é que o longo curso vai recuperar.