O cenário na restauração é “complicado” e os apoios lançados não estão adaptados à realidade de muitas pequenas empresas. Eventualmente, o país terá de começar a abrir estando disposto a correr alguns riscos e perceber que “destruição de valor” este “deserto” nos trouxe, contribuiu Miguel Júdice, administrador da Quinta das Lágrimas, na 1.ª Tourism Talks organizada pela Message in a Bottle.
Para Miguel Júdice é certo que as empresas do setor “vão sofrer muito neste cenário de retoma muito lenta” mas que este é o momento no qual “todos nós temos de nos reinventar e procurar encontrar formas de sobreviver”. O cenário na restauração é “complicado” sendo que o take away e o delivery possíveis neste período “não pagam custos”.
Segundo o administrador da Quinta das Lágrimas, “a procura vai reduzir muito” e quando os restaurantes voltarem a abrir “vão haver restrições ao número de clientes que podem servir”. A maior parte da restauração em Portugal “depende muito dos estrangeiros”, sobretudo restaurantes de segmento médio-alto, e o rendimento das famílias portuguesas vai descer pelo que “vão ter menos dinheiro disponível para jantar fora e fazer turismo”.
Os apoios não são adaptados à realidade das PME’s
Miguel Júdice afirma que “os apoios não são adaptados à realidade das pequenas empresas” e dá como exemplo a questão do gerente que é empregado não estar abrangido em situação de lay off. Na sua visão, o Estado tem de “emagrecer” para apoiar a economia nestas “crises que são cíclicas e vão voltar”, seja na forma de crise económica, guerra ou pandemia. É para momentos conturbados como este que vivemos que “as empresas e os particulares pagam impostos, para que o Estado os possa ajudar e não emprestar mas dar dinheiro”, e por isso devia ser equacionada uma redução de IVA e TSU.
“Vamos ter que pensar seriamente em começar a abrir as empresas, de forma muito assertiva e corajosa, medindo bem os riscos mas assumindo certos riscos”, defende o responsável, pois Portugal não aguentará muitos mais meses de paralisação. Miguel Júdice considera ainda ser “politicamente insustentável” que o isolamento não dure até ao final deste mês mas acredita termos “condições para avançar em maio”.
O Turismo é um setor do futuro
Mas o setor do turismo e da restauração vai “sobreviver” com “as pessoas que vivem nos locais e na proximidade”, apontando-se a mira ao turismo interno, até porque nos “próximos seis meses a aviação vai sofrer bastante” e Portugal é “um país da cauda da Europa” pelo que vai sofrer mais com a crise do transporte aéreo.
Mas a “catástrofe do turismo não vai existir” porque este é um “setor do futuro” e Miguel Júdice atenta que “as pessoas vão sempre querer viajar e vão cada vez viajar mais”. A questão que se coloca é “este deserto que vamos ter de atravessar e que destruição de valor vai trazer”.