Hoje, Dia Mundial do Turismo, Nuno Abranja, Luiz Moutinho, Alfonso Vargas-Sanchez e Tiago Rodrigues, que lançaram recentemente o livro “Turismo e Hotelaria Futureland”, deixam-nos a sua opinião sobre o futuro do turismo.
Por Nuno Abranja, diretor do Departamento de Turismo do ISCE – Instituto Superior de Lisboa e Vale do Tejo e autor da Lidel – Edições Técnicas*
O setor do turismo será afetado no futuro por fatores-chave determinantes, como as tecnologias, que podem anunciar a era do “ciberturismo”. É nossa ideia fundamentada que a popularidade de um destino turístico vai depender muito da forma como aquele país ou região controlou a pandemia de Covid-19 e agiu post pandemic, pois as precauções que ainda estão em vigor e a forma como o surto foi resolvido tranquilizarão os viajantes enquanto estão no local. Por conseguinte, é necessário que o turismo se posicione como um motor estratégico precoce em termos de planeamento, experimentação e incorporação de ideias e tecnologias emergentes e aplicando múltiplas estratégias de mercado para oferecer novas opções de negócio, mas sempre sob a certeza de que não só os destinos populares mudarão como também as novas consciências e interpretações dos visitantes em relação à oferta turística terá grande impacto na forma como as pessoas viajam de e para o destino.
é necessário que o turismo se posicione como um motor estratégico precoce em termos de planeamento, experimentação e incorporação de ideias e tecnologias emergentes e aplicando múltiplas estratégias de mercado para oferecer novas opções de negócio.
No mesmo sentido, consideramos que as tecnologias foram uma das áreas, se não mesmo a área, que mais ‘beneficiou’ da pandemia e da consequente necessidade de comunicar à distância, revelando um desenvolvimento avassalador em tão curto espaço de tempo. Foi neste contexto, que os autores deste artigo juntamente com os professores Luíz Moutinho e Alfonso Vargas-Sanchez desenvolveram uma investigação profunda e alargada que resultou no livro “Turismo e Hotelaria Futureland: Sustentabilidade e Tecnologias para o futuro”, lançado este mês de setembro, com o propósito de despertar consciências, potenciar conhecimentos e desafiar conceitos.
As novas tecnologias continuam a remodelar mercados e setores em todo o mundo revelando-se verdadeiros desafios para todos os destinos turísticos, empresas e profissionais do setor
As novas tecnologias continuam a remodelar mercados e setores em todo o mundo revelando-se verdadeiros desafios para todos os destinos turísticos, empresas e profissionais do setor. O ritmo e a escala de perturbação provocada por esta mudança parecem ser acelerados, percebendo que não haverá segundas oportunidades para quem não acompanhar esta mudança já. Desde a economia da partilha até à Internet das Coisas (IoT), passando por veículos autónomos, pela inteligência artificial (IA) e pela tecnologia blockchain até à análise de big data, inovações emergentes que prometem desbloquear mais oportunidades para as pessoas em todo o mundo. Em conjunto, estas tendências podem tornar as viagens mais atingíveis, eficientes e acessíveis a todos.
A reconceptualização dos intermediários turísticos significa, provavelmente, que os modelos de turismo de longa data em áreas como o alojamento ou agenciação de viagens continuarão a ser radicalmente remodelados, com mais viajantes a ligarem-se diretamente a um prestador de serviços através de uma plataforma tecnológica, em vez de lidarem com um hotel, um agente de reservas ou um agente de viagens profissional. Embora o desenvolvimento turístico bem planeado tenha a capacidade de contribuir para o bem-estar económico e sociocultural das comunidades de acolhimento, o crescimento rápido e não planeado do turismo pode igualmente provocar impactos negativos, como a sobrelotação, que pode embater nas comunidades e no ambiente.
as tecnologias irão andar de mãos dadas com a sustentabilidade e o turismo circular ocupará um papel relevante na sociedade
Como o futuro nos provará, as tecnologias irão andar de mãos dadas com a sustentabilidade e o turismo circular ocupará um papel relevante na sociedade. A integração do turismo no modelo de economia circular será crucial para reduzir ao máximo os impactos ambientais negativos desta atividade, tendo em conta que as pressões aumentam com a redução dos recursos naturais e as mudanças climáticas ameaçam as economias globais e as sociedades em geral. Além destas ameaças naturais, os impactos sociais e culturais provocados pelo setor turístico têm incitado ao aparecimento de movimentos de fobia turística e antiturismo que não podemos descorar, onde um pouco por todo o mundo mais desenvolvido têm aumentado de intensidade.
Neste dia 27 setembro 2023, que se celebra o Dia Mundial do Turismo, em que a Organização Mundial de Turismo escolhe como tema o Turismo e Investimentos Verdes, sentimos convictamente que este nosso livro destaca a enorme simbiose entre a sustentabilidade e a tecnologia, com temas de elevada relevância para o turismo futuro e que merecem aqui serem referenciados para reflexão coletiva, como o caso das micronações, das ecocápsulas, dos hyperloops, dos espaços sensoriais e da sensorconomia, e as tecnologias transformativas emergentes no setor turístico sustentadas em sistemas de inteligência artificial avançados, como a big e small data, o deep learning, a Internet das Coisas (IoT), a pesquisa por voz, a automatização e robótica, os chatbots, travelbots e assistentes virtuais inteligentes, a machine learning, entre outros aplicados à atividade turística. Estes mecanismos procuram enquadrar-se de forma vincada no ecossistema do turismo e das viagens, construídos para se tornarem mais inteligentes que o próprio ser humano, proporcionarem condições de excelência ao visitante e resultados de produtividade muito positivos às empresas.
*São co-autores deste artigo:
Tiago Rodrigues, diretor do Departamento de Marketing e Comunicação do ISCE – Instituto Superior de Lisboa e Vale do Tejo e autor da Lidel – Edições Técnicas;
Luiz Moutinho, BA, MA, PhD, MAE, FCIM. Professor Convidado de Marketing na University of Suffolk (Reino Unido) e na The Marketing School (Portugal). Professor Adjunto de Marketing, GSB, FBE, na University of the South Pacific (Fiji). Membro da Academia Europaea;
e Alfonso Vargas-Sánchez, Professor Catedrático de Gestão na Universidade de Huelva (jubilado) e Académico Titular da Academia Andaluza de Ciência Regional (Espanha).