A Ambitur.pt está a publicar o resultado de conversas com 25 empresários e profissionais das mais variadas áreas do Turismo, da hotelaria a rent-a-cars, da aviação à distribuição, contando ainda com algumas análises de professores e investigadores. O foco desta reportagem foram os Recursos Humanos, a importância da Formação, a integração das Tecnologias e os desafios que se colocam ao setor. Poderá ler o trabalho na íntegra na edição 328/Março da Ambitur.
A Vila Galé tem uma Academia através da qual oferece formação aos seus colaboradores, tanto que as competências técnicas não são fundamentais no currículo. O que importa é querer aprender mais, sobretudo programação, e “gostar de pessoas”. A transformação tecnológica não vai alterar a “essência” do produto turístico, que continua a ser essencialmente físico, mas podem haver surpresas.
Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador da Vila Galé, acredita que, nos próximos anos, continuará a ser um “desafio” atrair pessoas para as áreas operacionais dos hotéis pois “ainda há algum estigma” em relação a algumas profissões do setor, pelo que “algum trabalho de valorização terá que ser feito”.
Segundo o responsável, “a sociedade começou a direcionar os jovens para o ensino superior” perdendo-se “o caminho das vias mais operacionais” que, no futuro, vão ser cada vez mais necessárias e valorizadas: “Tem muito a ver com a lei da oferta e da procura e de existirem poucos recursos em determinadas profissões, que continuam a ser necessárias”, adianta.
A Vila Galé mantém sempre “vagas em aberto” e o gestor admite que “continuamos a sentir muita dificuldade por falta de candidatos, sobretudo, para funções de limpeza, restauração e cozinha. O que o Grupo mais procura nos candidatos, enquanto fatores essenciais para se trabalhar em hotelaria, são soft skills como “gostar de fazer os outros felizes” e “gostar de me relacionar com outras pessoas” porque, no fundo, o turismo é uma “fábrica de felicidade”. Como frisa Gonçalo Rebelo de Almeida, “o resto nós ensinamos”, no sentido de que as competências técnicas se vão desenvolvendo, nomeadamente, através da Academia Vila Galé.
Formação em tecnologia e programação
Refletindo sobre o futuro, o administrador da cadeia hoteleira refere que têm surgido novas funções relevantes para o setor como revenue manager, guest relations e analistas de dados, mas que “não vai haver transformação radical” porque a maioria vão continuar a ser as profissões mais tradicionais. Ainda assim, “vivemos numa época de transição” e as empresas vão ter de fazer um “esforço” de formação e requalificação dos seus colaboradores, no que à tecnologia diz respeito.
Apesar de já estarem “a entrar no mercado de trabalho nativos digitais”, na sua opinião, as instituições de ensino vão ter que adotar cada vez mais “disciplinas tecnológicas à séria” inclusive de programação informática: “São coisas mais recentes mas que qualquer pessoa vai ter de saber no futuro como HTML, PHP, XML e API’s”, descreve. “Os jovens vão precisar de trabalhar com bases de dados, sites e apps, e portanto vão ter de saber como é que aquilo se programa”, acrescenta.
O futuro “imersivo” das viagens
Não obstante, o “produto [turístico] continua a ser físico” por mais transformação tecnológica que aconteça. Até porque “no dia em que for digital, estamos todos desgraçados porque as pessoas deixam de viajar”, alerta Gonçalo Rebelo de Almeida. Por exemplo, nos parques da Disney World a “experiência é muito virtual”, exemplifica, e “não sei até que ponto a experiência vai ser tão imersiva que eu consigo ver Paris sem ir a Paris”. Contudo a “satisfação” não será a mesma.
O responsável da Vila Galé afirma que vem de uma geração que “não viajava” e para quem as viagens foram uma “conquista que não se quer perder”. Mas que as novas gerações podem, a determinada altura, pensar que “não faz sentido viajar” de avião, o que provoca poluição, ou visitar Barcelona e “sobrecarregar” a cidade.
*Este trabalho foi realizado antes da declaração do Estado de Emergência em Portugal