A poucos dias de mais umas eleições legislativas em Portugal, e tendo o turismo a importância estratégica que todos lhe reconhecem, quisemos ouvir os Conselheiros Ambitur sobre quais as prioridades que definiriam para o país e para a indústria turística se fossem os próximos Primeiros-ministros. Manuel Proença, presidente do Grupo Hoti Hotéis, não fugiu às questões e defende que o perfil do próximo responsável pela pasta deverá ser o de um “profissional bem conhecedor do setor, que saiba ouvir e tenha uma boa capacidade de decidir”.
Se fosse nomeado Primeiro Ministro este ano, qual a importância na estratégia que daria à atividade económica do turismo, dentro de um contexto de crescimento do país? Como suportaria essa prioridade?
O setor do turismo é o principal setor da economia nacional, representando mais de 12% do Produto Interno Bruto. Segundo as conclusões do World Travel & Tourism Council – que mede o valor acrescentado direto e indireto – o setor representa atualmente 16,8%, ultrapassando o pico atingido em 2019. O WTTC fez também projeções a 10 anos, antecipando para 2033 o aumento do peso do setor para 21,1%. Pela importância que o setor tem na nossa Balança de Transações Correntes, no Emprego e no Rendimento, terá que se considerar o setor como estratégico e prioritário na nossa economia.
O perfil do responsável da tutela que valorizaria o setor, seria o de um profissional bem conhecedor do setor, que saiba ouvir e tenha uma boa capacidade de decidir.
Ao nível da tutela, que pasta atribuiria ao turismo (Ministério/ Secretaria de Estado/ outras pastas)? Que perfil deve ter o responsável pela sua tutela?
A pasta é importante, como importante é também o perfil da pessoa que vai exercer a tutela. Há 18 anos que Portugal não tem um Ministro do Turismo, sendo a pasta gerida diretamente por Secretários de Estado – felizmente muito competentes – integrada com outras pastas no Ministério da Economia. Perante a importância que o Turismo já atingiu na nossa economia e a sua projeção para os próximos anos, precisamos sentar um Ministro do Turismo na mesa de reuniões do Conselho de Ministros.
O perfil do responsável da tutela que valorizaria o setor, seria o de um profissional bem conhecedor do setor, que saiba ouvir e tenha uma boa capacidade de decidir.
Temos excelentes profissionais e um mercado de trabalho que funciona, mas tratamos muito mal o capital nacional e o estrangeiro que investe na nossa economia.
Quais deveriam ser as principais linhas para a evolução turística nos próximos quatro anos?
Identifico três eixos de aposta estratégica:
a) Reforçar os centros de decisão do setor em Portugal, disponibilizando instrumentos de apoio à competitividade empresarial e à internacionalização. Respeitar o princípio da equidade no apoios ao investimento e tratamento célere dos projetos promovidos por todos os agentes turísticos nacionais, de forma igual, independentemente da sua dimensão. O que se passa hoje, discriminando negativamente as grandes empresas do setor nacional, que em termos ibéricos são médias empresas e num contexto global são micro empresas, não faz sentido. Quando as explorações correm mal, as empresas com pequeno capital, acabam por encerrar a atividade e gerar desemprego.
b) Foco na mobilidade e nas acessibilidades, uma vez que mais de metade dos turistas chegam de avião ao nosso território. Encontrar uma solução para o aeroporto de Lisboa é crítico para a sustentabilidade do setor na principal região turística nacional.
c) Reforma do sistema de justiça, nomeadamente do funcionamento dos Tribunais Administrativos. Não é razoável o tempo médio que os processos estão “embrulhados” nos tribunais administrativos. Não podemos esquecer que a produtividade da economia resulta da combinação de dois fatores: Capital e Trabalho. Temos excelentes profissionais e um mercado de trabalho que funciona, mas tratamos muito mal o capital nacional e o estrangeiro que investe na nossa economia. Há dezenas de processos imobiliários e turísticos que ficam encalhados na inércia dos tribunais administrativos, sendo Portugal o pior país da União Europeia nos tempos médios de decisão dos Tribunais Administrativos.
Valeria a pena revisitar o modelo da Turismo Capital, integrada na Portugal Ventures há 10 anos. Essa decisão não beneficiou o setor.
Considera essencial a alteração do papel do Turismo de Portugal?
O Turismo de Portugal é uma das instituições que melhor funciona em Portugal. Tem quadros excelentes e um track record de muito sucesso.
Valeria a pena revisitar o modelo da Turismo Capital, integrada na Portugal Ventures há 10 anos. Essa decisão não beneficiou o setor. Até lá, aguardaremos pela atuação do Banco de Fomento.
Para criar valor em qualquer produto ou destino, deveremos investir na marca e na comunicação com o cliente final. Estamos a fazer bem, mas ainda podemos fazer mais e melhor!
Enquadrando o turismo na restante economia, que prioridades daria ao “Aeroporto de Lisboa”, TAP, TGV e reforço da promoção do país?
O Aeroporto de Lisboa deve ser tratado com a máxima prioridade, pela importância que tem para o setor e para a competitividade da região de Lisboa no contexto internacional. Aguardamos que o próximo Governo tome essa decisão, logo numa das primeiras reuniões. A CTP, através do seu Presidente, já manifestou a sua posição claramente favorável à solução dual Portela/Montijo, já negociada com a concessionária.
A TAP deve ser privatizada e tratada de acordo com os compromissos já assumidos com a Comissão Europeia.
O TGV é um projeto que vai melhorar a coesão e a competitividade territorial, muito importante para o turismo e também o desenvolvimento das relações com o mercado espanhol.
O reforço da promoção do país é também muito importante. Para criar valor em qualquer produto ou destino, deveremos investir na marca e na comunicação com o cliente final. Estamos a fazer bem, mas ainda podemos fazer mais e melhor!
Que outros temas considera pertinentes que fossem colocados em cima da mesa governativa, desde a primeira hora?
Um enquadramento governativo que permita ter estabilidade política por um período mínimo de quatro anos. É importante para a nossa economia, criar uma consciência nacional de continuidade e estabilidade legislativa e fiscal.
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