O Instituto Nacional de Estatística (INE) apresenta a estimativa preliminar da Conta Satélite do Turismo (CST) para 2022, para quatro agregados principais: o Consumo do Turismo no Território Económico (CTTE) e, com recurso ao sistema de matrizes Input-Output, o Valor Acrescentado Bruto gerado pelo Turismo (VABGT), o VAB total e o PIB total do turismo. São ainda divulgados resultados provisórios da CST para 2021 bem como os resultados definitivos para 2020.
Em 2022, o VAB (direto) gerado pelo turismo aumentou 72,7%, atingindo 8,9% do VAB nacional
O VABGT totalizou 18 308 milhões de euros em 2022 e representou 8,9% do VAB nacional (5,7% em 2021), superando o valor de 2019, ano em que representou 8,1% do total nacional, o peso relativo máximo do período pré-pandemia (desde o ano 2000, ano mais recuado para o qual se dispõe de informação da CST).
O CTTE aumentou também de forma substancial em termos nominais (79,3%), cifrando-se em 37 836 milhões de euros, o equivalente a 15,8% do PIB, ultrapassando igualmente o registo de 2019 (15,3%).
O VABGT e o CTTE registaram, respetivamente, aumentos nominais de 72,7% e 79,3% em 2022 face a 2021. O VABGT e o CTTE aumentaram de forma mais acentuada que o VAB e o PIB nacionais (variação nominal de 11,4%, em ambos os casos). Os valores do VABGT e do CTTE situaram-se acima dos níveis de 2019, evidenciando uma dinâmica de recuperação mais acentuada do que a observada para o total da economia nacional em 2022.
Contração de 48,9% do total do VABGT e de 49,0% do VABGT das atividades caraterísticas do turismo
Em 2020, o total do VABGT registou uma contração de 48,9%, face a 2019, enquanto o VAB da economia nacional diminuiu 5,8% no mesmo ano. Observou-se um declínio ainda mais acentuado do VABGT das atividades caraterísticas do turismo (-49,0%), em especial no transporte aéreo em que o VABGT registou mesmo valores negativos em 2020 (atingindo assim uma variação de -108,1%), nas agências de viagens, operadores turísticos e guias turísticos (-77,8%), nos restaurantes e similares (-55,1%), no aluguer de equipamento de transporte de passageiros (-52,5%) e nos hotéis e similares (-52,1%).
Apenas o VABGT das residências secundárias por conta própria (rendas imputadas de residências secundárias) aumentou 3,6% em 2020.
Decréscimo de 59,4% da despesa do turismo recetor, que compara com uma variação negativa de 34,7% no turismo interno, em 2020
A despesa do turismo recetor foi a mais afetada pelo contexto pandémico, registando uma variação negativa de 59,4%, que compara com um decréscimo de 34,7% da despesa do turismo interno e com um aumento de 1,7% da despesa associada a outras componentes, em 2020.
O decréscimo menos acentuado da despesa do turismo interno (-34,7%), face à despesa do turismo recetor (-59,4%), resultou num aumento do peso do turismo interno no total do CTTE, que evoluiu de 30,6% em 2019 para 39,0% em 2020. Em sentido inverso, observou-se uma redução do peso da despesa do turismo recetor (de 64,4%, em 2019, para 51,0%, em 2020), mantendo, ainda assim, a primazia face à despesa do turismo interno e das outras componentes.
A despesa do turismo recetor representou 11,6% do total das exportações de bens e serviços em 2020, divergindo da trajetória ascendente observada até à emergência da pandemia COVID-19, que culminou no valor registado em 2019 (22,7%), o mais elevado desde 2016.
A contração da despesa do turismo recetor (-59,4%) foi igualmente responsável pela diminuição do saldo dos fluxos turísticos face a 2019 (-63,1%), uma vez que a despesa do turismo emissor registou um decréscimo menos acentuado (-50%).
Diminuição de 8,1% e de 14,1%, respetivamente, no emprego e nas remunerações das atividades caraterísticas do turismo, no primeiro ano da pandemia (2020)
O emprego nas atividades caraterísticas do turismo diminuiu 8,1% face a 2019, fixando-se em 425 730 equivalentes a tempo completo (ETC) que representavam 9,1% do total do emprego nacional. Esta redução foi superior à observada na economia nacional (-2,2%).
Considerando exclusivamente a componente turística das atividades caraterísticas do turismo, esta correspondeu a 4,4% do total do emprego nacional (206 691 ETC), tendo diminuído 23,7%.
A redução do emprego das atividades caraterísticas do turismo, observada em 2020, foi mais pronunciada no emprego não remunerado (-15,3%), do que no emprego remunerado (-6,7%).
À exceção dos outros transportes de passageiros (rodoviários, ferroviários e marítimos), as atividades caraterísticas do turismo evidenciaram uma dinâmica de redução de emprego em 2020, sendo esta mais acentuadas nos hotéis e similares (-15,1%), no aluguer de equipamento de transporte (-9,0%) e nas agências de viagens, operadores turísticos e guias turísticos (-8,6%).
Em regra, as remunerações das atividades caraterísticas do turismo registaram uma diminuição mais pronunciada do que o total do emprego (ETC), o que se deverá, em parte, às medidas de política pública de apoio ao rendimento e emprego, nomeadamente ao regime do lay-off simplificado. Destaca-se a discrepância observada nos transportes aéreos: -2,2% no emprego (ETC) vs. -26,8% nas remunerações.
Em 2020, as remunerações nas atividades caraterísticas do turismo representaram 7,6% do total de remunerações da economia nacional. Considerando apenas a componente turística, o peso das remunerações correspondeu a 3,7% do total da economia nacional. As remunerações das atividades caraterísticas do turismo registaram uma diminuição próxima de 14%, em 2020, enquanto as remunerações da economia nacional estagnaram (variação nula), face a 2019.
Em 2020 a remuneração média por trabalhador nas atividades características do turismo foi inferior à média nacional: -12,8% em 2020, que compara com -3,9% em 2019. Registaram-se, no entanto, diferenças relevantes por atividade em 2020. Apenas nos transportes aéreos (+128,3%), no desporto, recreação e lazer (+38,6%) e nos serviços culturais (+3,8%) a remuneração média por trabalhador foi superior à da economia nacional.
Nos restaurantes e similares e nos hotéis e similares agravou-se o distanciamento da remuneração média por trabalhador face à média da economia nacional, cifrando-se a diferença em -30,7% e -18,1%, respetivamente.
Peso do CTTE (procura turística) no PIB em Portugal foi o segundo mais elevado em 2021, para o conjunto de países europeus com informação disponível
Considerando a informação disponível para o ano de 2021 para países europeus (dados provisórios ou preliminares), observou-se que Portugal foi o segundo país que registou maior importância relativa da procura turística no PIB (9,8%), sendo apenas superado pela Islândia (10,7%).
Em termos de variação, verificou-se uma recuperação significativa da procura turística em 2021 em todos países europeus com informação disponível, oscilando entre 82,1% (Espanha) e 10,7% (Países Baixos). Em Portugal, a procura turística aumentou 25,2%, face a 2020, ano em que tinha registado um decréscimo de 48,8%.
No que concerne ao peso do VABGT no VAB da economia nacional, apenas existe informação disponível para 2020, ano em que Portugal registou a segunda maior importância relativa do VAB gerado pelo turismo na economia nacional (4,4%), ultrapassado pela Espanha (5,3%).
Apenas a Islândia (-73,4%) e a Chéquia (-49,4%) registaram uma queda do VABGT superior à observada em Portugal (-48,9%), em 2020.
Em 2022, o consumo turístico teve um contributo total de 12,2% para o PIB
Aplicando o Sistema Integrado de Matrizes Simétricas Input-Output aos principais resultados da CST, é possível determinar o impacto direto e indireto da atividade turística na economia nacional. Este sistema, respeitando um equilíbrio geral entre procura e oferta agregadas, representa as interconexões entre os ramos da atividade económica e permite apurar, mediante certas condições e hipóteses, o efeito da propagação das variações da procura turística aos diversos ramos de atividade.
Estima-se que, em 2022, o consumo turístico tenha tido um contributo total (direto e indireto) de 29,2 mil milhões de euros para o PIB, equivalente a 12,2% daquele agregado, e de 24,9 mil milhões de euros para o VAB da economia nacional (12,0%). Neste ano, o PIB do turismo registou um crescimento nominal de 75,2% face a
2021 e de 15,0% em relação ao período pré-pandemia (2019).
Em 2022 prosseguiu a recuperação intensa da atividade económica, iniciada em 2021, com o PIB a crescer, em termos nominais, 11,4% e 7,1%, respetivamente.
Da mesma forma que, durante a pandemia, a forte redução da atividade turística penalizou a variação do PIB, em 2022 observou-se o contrário, com o turismo a ser determinante para a expansão da atividade económica, devendo ter sido responsável por 5,8 pontos percentuais dos 11,4% de crescimento nominal do PIB.
Os produtos que mais contribuíram para o PIB turístico, como os serviços de alojamento, a restauração e similares, os transportes (especialmente os transportes aéreos) e os serviços de aluguer, que foram os que mais sofreram os impactos económicos da pandemia COVID-19, apresentaram aumentos entre 146,5% (transportes aéreos) e 82,3% (serviços de alojamento), face a 2021.