Esta é a convicção de Frederico Costa, presidente da Visabeira Turismo e Imobiliária e ex-presidente do Turismo de Portugal, numa terceira parte da Grande Entrevista dada à Revista Ambitur (cujos restantes blocos podem ser lidos na Edição 267, de Fevereiro de 2014). O responsável acredita que em 2015 teremos finalmente “uma evolução” do actual modelo de promoção externa, o qual considera estar num “patamar bastante profissional”. Frederico Costa, que está há quatro meses no sector privado, aborda ainda a questão do associativismo no sector, reconhecendo que “não há infelizmente ainda um movimento estável e influente também na vida fora do sector”. & O que pensa do associativismo turístico em Portugal?No Turismo penso que ainda não é condicente com o peso do sector, ou seja, está bem estruturado em termos de áreas – as agências de viagens, a restauração, os hotéis, uma confederação que é a cúpula – mas penso que ainda não há um movimento estável de associativismo, partilhado, responsabilizado e, ao mesmo tempo, influente, também, na vida fora do sector. Mas noto um avançar de profissionalismo. Se olharmos para o associativismo há 10 ou 20 anos atrás, penso que as estruturas hoje são mais profissionais, mais capazes, melhor organizadas. Por outro lado, isso tenho de o dizer, penso que temos estruturas a mais. O país é pequeno e o sector – apesar obviamente das diferenças de região para região, de empresa para empresa – acho que ganhava ter mais peso, e portanto mais peso requer optimização de estruturas. Sei que isso é um processo difícil, mas também será um processo natural. Mais até do que diminuir as estruturas acho que tem que haver entendimento entre estas estruturas. Não faz sentido, por exemplo, que uma associação de hotéis de Portugal e uma do Algarve ou do Norte, não tenham uma política ou estratégia comuns, ou não tenham bem definida uma agenda comum para hotelaria no país. Há quem diga que o associativismo turístico é frágil demais para uma responsabilidade de partilhar uma agência nacional de promoção turística com o Turismo de Portugal? Não sei, depende da ambição que se pretende para essa agência nacional de promoção turística, ou seja, essa agência pode ser algo pequeno ou pode mesmo, no seu expoente máximo, substituir o próprio Turismo de Portugal, portanto, depende da ambição que todos lhe queiram conferir. Mas penso que não cabe às associações gerir uma agência nacional, têm que ser profissionais. O que tem de haver é, por parte das entidades, a motivação, o enquadramento, a sintonia de prioridade, se isso é um instrumento útil para os resultados ou para potenciar os resultados das empresas. Portanto, penso que aí a questão não é propriamente as associações estarem ou não à altura, é mais as empresas, ou seja, se as empresas querem, se as associações viabilizam e se depois se consegue montar um sistema, seja ele através de uma agência ou de outro formato qualquer, que seja ambicioso o suficiente para executar a promoção turística de Portugal. Porque nunca funcionou o CEPT? Não diria que “nunca funcionou”. Já foi mais dinâmico é certo mas depende também do que as pessoas identificam como papel que o CEPT (Conselho Estratégico de Promoção Turística) deve ter, que é recordo, um conselho estratégico. Ultimamente não tinha um poder vinculativo. Era portanto um órgão consultivo. Servia para discutir políticas e estratégias, bem como apreciar os planos de promoção. O facto de não ter poder decisório fez talvez com o tempo ter perdido algum élan relativamente ao passado recente, desacreditando-o e sendo encarado com um pró-forma. Na minha opinião, os modelos evoluem, o nosso modelo actual data de 2003-2004, e o conselho estratégico mudou muito de mãos em termos de liderança. Tem muito a ver com a dinâmica que se cria, com os respectivos participantes. Penso que o conselho estratégico poderia ser mais forte, desde que principalmente os “privados” assim o quisessem. Cabe a nós, ou à confederação, exigir que haja um conselho estratégico (se é que este modelo vai perdurar), que seja útil, porque aí pode-se de facto discutir toda a estratégia, os objectivos e o que é a promoção turística no país. O repto do Secretário de Estado do Turismo foi sobre um novo modelo de promoção externa, mas só se fala numa suposta Agência…Eu tendo a concordar com essa afirmação, penso que se foi um bocadinho longe e depressa demais na ideia, apesar de o conceito não estar inventado. Ou seja, falou-se da criação de uma agência nacional sem se dizer o que era essa agência e, portanto, subentende-se que para chegar ao conceito de uma agência nacional, qualquer que seja, tem que se falar sobre o modelo de promoção. Penso que o Secretário de Estado deu os passos certos, ou seja, a primeira coisa que fez foi questionar as várias entidades, agências regionais, entidades regionais, confederação, ou seja, os players com interesses na promoção turística internacional, sobre se o modelo actual servia ou não. A partir daí saltou-se, talvez depressa demais, desta recolha de informação, de posições, de percepções, para o conceito de uma agência nacional de promoção turística como um modelo a seguir. É um facto que o Secretário de Estado mostrou logo abertura para partilhar mais com a iniciativa privada a promoção turística do País, mas penso que foi mais até por uma certa lógica evolutiva natural que se passou para o conceito da dita agência. Muitos concordarão que funcionou bem ao nível regional através da criação das Agências Regionais de Promoção Turística, pelo que não haveria razão para que não funcionasse também a nível nacional. Neste momento Governo e Confederação analisam os caminhos possíveis. Vamos ver onde é que vai dar. Confesso que não sei se a agência nacional vai existir ou não, mas penso que vale sempre a pena discutir se a promoção está a ser bem feita ou se pode ser melhorada. Se viermos a criar um modelo que seja mais eficaz, óptimo, caso contrário temos que melhorar este, o que também já poderá ser bom. Mas a ambição à partida deve ser sempre grande! Afinal estamos a discutir formas de melhorarmos substancialmente os resultados e recordo que há ainda metade da capacidade hoteleira do País para preencher!Relativamente à promoção externa do país, quais devem ser as linhas prioritárias a ter em conta?Quais são as máximas que estão a ser colocadas em cima da mesa, tanto pela confederação como pelo Secretário de Estado? Primeiro, despolitizar a promoção: penso que estamos todos de acordo. Segundo, fugir a ciclos políticos e a interesses políticos: estamos de acordo. Tornar mais profissional a promoção: estamos todos de acordo. Tornar mais acompanhada a promoção por parte da iniciativa privada, nomeadamente pela CTP: estamos de acordo. Haver um maior envolvimento dos privados na promoção: estamos de acordo. Tornar mais ágil, flexível e oportunista a promoção: estamos de acordo. Se estamos portanto todos de acordo em relação a essas máximas e se conseguirmos que estes conceitos se transformem num modelo mais eficaz, seja atrás de uma agência nacional, ou de outra coisa qualquer, então óptimo. Concorda então em avançarmos para um modelo assim?Defendo que a promoção do nosso país enquanto destino turístico deve manter o rumo de ir caminhando para um sistema no qual a iniciativa privada esteja mais envolvida e participativa, seja na definição estratégica, seja na execução da mesma. Não penso que Portugal esteja ainda preparado para uma “privatização” pura e simples da promoção e por isso advogo um modelo de participação misto, mas ao mesmo tempo progressivo, no qual o Estado deve mover-se para uma posição cada vez mais de regulador e os privados de executantes. Até acho que actualmente atingimos um patamar bastante interessante e profissional. Podemos não estar todos de acordo com o que criámos, podemos falhar em algumas regiões, podemos não estar à altura de alguns desafios, mas a verdade é que o modelo que desenvolvemos, pelo menos conceptualmente, é talvez o mais evoluído da Europa. Temos comparticipação financeira dos privados, temos comparticipação pública regional, temos comparticipação pública nacional, temos acção regional, temos acção nacional…e tudo bastante bem articulado, onde cada um sabe o que deve fazer. Temos, em teoria, um conselho estratégico que devia funcionar para ligar todas estas pontas. E portanto é uma parceria público-privada, no verdadeiro sentido da palavra, obviamente com recursos mais públicos do que privados, mas é assim também em quase toda a Europa.Falta-lhe alguma coisa, a utilização de fundos comunitários…Estamos aqui para ver se isso é possível. Penso que vai ser muito difícil a promoção nacional aceder facilmente a fundos comunitários. Por várias razões. Primeiro porque as grandes empresas estão praticamente vedadas ao financiamento comunitário, portanto tudo o que são as grandes empresas que, por sua vez, fazem marca, que vão com mais frequência para os mercados, que abrem mercados e têm capacidade de comercialização forte lá fora, em princípio não têm acesso a verbas comunitárias. Segundo, e essa sim mais preocupante, regiões de não convergência, nomeadamente, Algarve, Madeira e Lisboa, terão poucas verbas comunitárias. Ainda não está fechado o quadro, vamos ver, eu não acredito que haja grandes novidades relativamente a essa matéria.Acredita que até ao final do ano temos um novo modelo de promoção?É o compromisso do Secretário de Estado… Penso que sim, em 2015 teremos no mínimo uma evolução deste. Se é novo ou não, isso já não sei (risos)… Por Pedro Chenrim