O Turismo é uma força motriz para a economia de muitas regiões. No caso da ilha da Madeira, representa 26% do Produto Interno Bruto (PIB) da região e, com o setor inativo, a quebra é abrupta: em dois meses, registou uma queda de 4,4%. Já o impacto é superior a 110 milhões de euros por mês.
Desde o início da pandemia provocada pela Covid-19 que o Governo Regional tem apostado numa lógica de apoios a todo o tecido empresarial, que tem sido fortemente impactado pela crise. À Ambitur.pt, o secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira, Eduardo Jesus, refere que as preocupações que envolvem a operacionalidade do setor ainda são correntes. “Com a travagem, as unidades hoteleiras e todos os serviços (ligados ao turismo) viram-se privados do seu mercado”, pelo que foi iniciada uma medida de apoio que assentou na “criação de uma linha de 100 milhões de euros e que tem a particularidade de converter em fundo perdido o apoio que agora é dado sob a forma de empréstimo”, auxiliando as “empresas nos ordenados: permite pagar 20% da massa salarial durante seis meses”. Por outro lado, aos empresários independentes, foi atribuído um “subsídio de fundo perdido a cada um deles” que passaram a “beneficiar do valor equivalente a dois IAS” (Indexantes de Apoios Sociais), pago em 50% pela Segurança Social e o restante pelo Instituto de Emprego.
Eduardo Jesus destaca ainda que, através da Associação de Promoção da Madeira (AP Madeira), foram lançadas um conjunto de medidas que foram ao encontro dos profissionais do setor e das empresas: “Embora com uma quebra total de receitas, procurou-se que (o setor) mantivesse acessos a recursos”. A dispensa de pagamento de contas durante três meses, a assunção de custos que as empresas tiveram com férias que não se realizaram e o encerramento de processos que permitiram reembolsar as empresas de planos de comercialização e venda, foram algumas das medidas.
“Não se pode garantir confiança às pessoas se não se sentirem bem dentro de um avião”
As preocupações do Governo Regional não se ficaram por aqui e, enquanto se acordam medidas de apoio, houve a necessidade de se criar um “Manual de Boas Práticas” que assenta em três níveis: distanciamento social, equipamentos individuais de proteção e segurança sanitária. No âmbito deste documento, Eduardo Jesus refere que foi desenvolvida uma análise por toda a cadeia, desde “o embarque, desembarque, transferes para o alojamento, receção, quartos, zonas comuns, como a piscina, spa ou bares” até às experiências que o turista vive na região, isto é a “animação turística”. O contributo do setor que, desde o início, esteve bastante envolvido, resultou na ideia de “evoluir para que a implementação (do Manual) significasse um ativo” para Madeira, nascendo assim o “Covid Safe Tourism”. Sempre foi do interesse do arquipélago que a certificação tivesse visibilidade internacional até porque o “turismo é um negócio planetário e não se restringe apenas à região e ao país”, explica o governante. Desta forma, através de um parceiro internacional, foi permitido “credenciar todo este processo e apresentá-lo ao mundo como uma certificação acreditada”. O processo é feito pela entidade internacional e todo o setor, como hotéis, alojamentos rurais ou agências de viagens, pode obter a certificação, desde que as “boas práticas” incluídas no manual sejam implementadas. O objetivo é “apresentar a Madeira como um destino certificado no que diz respeito à segurança sanitária e no que diz respeito à Covid-19”, afirma Eduardo Jesus.
Mas será o “Covid Safe Tourism” suficiente para restaurar a confiança do turista? Eduardo Jesus não tem dúvidas de que o grande desafio para os destinos, e, neste caso, para a Madeira que depende da acessibilidade aérea, tem que ver com a forma como é instalada a confiança, um objetivo que “passou a ser a palavra de ordem”. Aliás, o governante considera uma mais-valia este “tipo de intervenção”, dando “garantias às pessoas” que, no momento da escolha do destino, existem “boas práticas e cuidados acrescidos”. Contudo, acredita que este é um trabalho de todos e não fica só à responsabilidade do destino: “As companhias aéreas têm um papel preponderante porque são o primeiro impacto”, referindo que, “antes do embarque”, deve ser percebido pelas pessoas que “existem medidas que estão a ser implementadas e que as protegem do contágio”, estando visíveis ações como o distanciamento social ou a facilidade de utilizar equipamento individual de proteção. Em última instância, os passageiros deverão ser “testemunhas do esforço que terá de existir no âmbito da segurança sanitária”. Já no interior do avião, os cuidados devem ser os mesmo e a proteção assegurada, cabendo a cada companhia assegurar a segurança, seja através da “colocação de separadores entre cadeira, kits de desinfeção ou práticas introduzidas ao nível da limpeza, segurança e refeições”, exemplifica o secretário regional. “Não se pode garantir confiança às pessoas se não se sentirem bem dentro de um avião”, diz.
É a 13 de maio que a Comissão Europeia anunciará medidas para a acessibilidade aérea mas não é possível “arriscar” uma data para a retoma da atividade do setor na região. Isto porque são muitas as questões ainda sem resposta em relação ao setor: “´Que controlo será feito?’, ‘Quem o fará?‘, ‘Que obrigações vão decorrer de modelo de controlo para as companhias e para os aeroportos? Sem essas respostas, ninguém arrisca uma data”, sublinha o governante, indicando haver “intenções de concretizações de viagens por parte de vários operadores” em maio, junho e julho, mas a “agenda está marcada por questões comerciais”.
Embora sem data, Eduardo Jesus deixa uma certeza: O “documento de boas práticas que envolve todo o setor é bastante abrangente e permitiu que todas as entidades tomassem consciência do grau de exigência e das medidas que têm de ser implementadas”, pelo que o tempo que ainda separa até que “chegue o turista” vai permitir à cadeia de valor da oferta turística da região estar operacional para receber visitantes.