O Fladgate Partnership agrega a intensidade do vinho do Porto, a hospitalidade e a cultura num negócio secular. A Ambitur rumou ao projeto mais recente, o WOW (World of Wine), em Vila Nova de Gaia, para desvendar um pouco sobre estes pilares em que Adrian Bridge, CEO do grupo, acreditou desde a sua chegada a Portugal, em 1994. Conheça aqui um empresário que se diz ambicioso por qualificar ainda mais o destino Porto. Leia agora a 2ª parte desta Grande Entrevista, publicada na edição 346 da Ambitur.
Quais foram os maiores desafios para o grupo ao longo destes últimos anos?
Quando fazemos os grandes projetos a tendência é lançar entre épocas difíceis. Quando abrimos o The Yeatman, Portugal viveu uma crise, depois entrou a TROIKA. Quando abrimos o WOW, entra uma pandemia. Por isso, obviamente, o timing é um grande desafio porque o The Yeatman e o WOW são nascimentos difíceis, mas somos um grupo com visão de investimento a médio e longo prazo, sabemos que ninguém vai construir com esta dimensão para curto prazo. Fazemos isto com a intenção de alterar a cidade e com esta dimensão para estimular outros investimentos ao lado. Sabemos que, à volta, há muitos armazéns de vinho do Porto vazios, que podem no futuro ser outras galerias, restaurantes, outros bens, que virão beneficiar o destino.
Como é que os gestores podem fazer para ter, como este, um negócio de longo prazo e de sucesso, com impacto na economia portuguesa?
Quando vim para Portugal em 1994 considerava-o um país de terceiro mundo. Basicamente, era um país que, pós-revolução, pós-inflação brutal e após entrar na economia europeia em 1986, estava na sua fase de transformação. Em 2024, faz 30 anos que cá estou e nesse tempo esta transformação é profunda. A realidade, hoje, é que há muitos investidores internacionais que querem investir em Portugal, querem visitar o país, querem viver nele, porque é um país seguro, é um bom membro da Europa e é estável. Tem uma população positiva e com boa educação. Temos de melhorar as nossas políticas, com pessoas que acreditem mais no futuro e que pensem a longo e médio prazo porque há assuntos estruturais a resolver e os políticos estão sempre a pensar a curto prazo. E eu entendo porquê, porque governam durante três ou quatro anos e não vão acreditar no seu trabalho se os benefícios só chegarem após uma década. Temos um sistema judicial em Portugal que, francamente, é uma desgraça porque não funciona e quando não funciona não há justiça para a população. Isto é um desafio político, não de um empresário. Mas são coisas que, num país com tanto potencial, precisamos de resolver. Não se pode continuar a ignorar a realidade. E quanto mais somos internacionais, mais as pessoas esperam um bom funcionamento do processo jurídico, político e do planeamento de obras. Do ponto de vista prático, para construir um futuro positivo para a população portuguesa e para os jovens, onde os melhores ficam e não saem, precisamos de estrutura. Temos este potencial em Portugal e eu acredito muito no futuro. Sim, há desafios, é verdade. Portugal sempre teve esta tendência de boom que vem com um pensamento de curto prazo.
Percebe-se que o Fladgate tem reconhecimento pelo público internacional. Qual o reconhecimento pelo público nacional?
Acho que é bom, mas é sempre possível fazer mais. Neste projeto recente [o WOW] há pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de o visitar. Um dia tive a visita de um secretário de Estado que entrou no WOW e disse “eu não acredito na escala e na ambição deste projeto”, isto três anos depois da abertura. É mais uma pessoa que entende, que vai lá e que fala. O lançamento deste projeto em julho de 2020, durante a pandemia, quando não se podia abrir restaurantes, bares e museus ou com horários restritos ou taxas de ocupação limitadas, foi uma loucura. É possível fazer mais e temos essa necessidade porque estes são bens que podem dar orgulho aos portugueses. Fazemos isto com escolas diariamente, a fechar este ano (2023) com 50 mil ou 60 mil estudantes a visitar-nos, que têm a oportunidade de ir a um museu na cidade, como por exemplo, ir ao único museu da cortiça, onde aprendem sobre a natureza e sobre este produto que representa 50% da sua produção em Portugal. Penso que isto dá orgulho, mas para as pessoas terem esta sensação, precisam de visitar.
O The Yeatman e o WOW são fruto do crescimento do turismo na cidade do Porto ou são negócios que impulsionam o turismo na cidade do Porto?
Por exemplo, em 2016, comprámos o hotel Infante Sagres e o orçamento de marketing era de 17 mil euros por ano. No mesmo ano, o orçamento de marketing do The Yeatman era de 450 mil euros. Ou seja, trabalhamos para construir o nosso negócio e achamos que este investimento vai beneficiar a cidade. Não podemos construir e esperar que vai estar cheio automaticamente, precisamos de trabalhar. É um desafio, internacional e nacional, porque as pessoas não têm o hábito de visitar museus e atividades culturais das suas cidades. Se amanhã for para Madrid, não fico no hotel ou faço compras no shopping, eu planeio idas aos museus. Aqui, em Portugal, tem de se estimular as pessoas para estas atividades culturais.
O WOW é o projeto mais recente e 2023 é o seu “ano zero”. Face ao The Yeatman, aos vinhos do Porto, que são projetos consolidados, o que é preciso fazer para consolidar também o WOW?
Se temos coisas para fazer em Portugal, temos muito mais coisas para fazer lá fora. Fechámos muitos contratos com operadores turísticos e com eventos, e tudo isso dá-nos uma previsão de crescimento de 50% nas vendas. Pensamos que a parte internacional irá representar 70% do nosso negócio. Só temos planeadas 350 mil pessoas a visitar o WOW em 2024, quando a capacidade é para um milhão. Por exemplo, o Taylor’s vai fechar 2023 com 130 mil visitantes, mais do que nos museus do WOW. Isto porque o Taylor’s tem o renome internacional e o WOW ainda não está nos guias. Mas quantas mais pessoas recebermos, mais positivo é. Mais movimento implica mais reconhecimento. Este mês (dezembro), vamos receber nas nossas experiências cerca de 10 mil a 12 mil visitantes. Nos restaurantes, vamos fechar à volta de 30 a 35 mil refeições.
Quanto é que os negócios do grupo faturaram em 2023?
2023 vai fechar a faturar 155 milhões de euros, dividido entre a hospitalidade, vinhos e vinhos do Porto, onde esta última categoria representa à volta de 40%, e distribuição. Para 2024, temos a expectativa de faturar 178/179 milhões de euros.
Tem algum valor de investimento previsto para os próximos tempos?
Queremos construir o nosso novo hotel, o Bearsly, mas está sujeito ao processo de planeamento. Não é fácil, porque queremos construir o primeiro hotel neutro em carbono em Portugal, com todas as regras que existem ou não existem para este tipo de empreendimentos. Queremos construir o futuro e precisamos de projetos pioneiros como este para atingir a neutralidade carbónica até 2050. O The Yeatman, o WOW, o Croft Pink foram pioneiros. Isto é o ADN do nosso grupo.
Onde nasceu e onde passou a sua infância?
Nasci no Canadá porque a minha mãe estava lá na altura e saí de lá com 18 meses. A minha infância é passada na Inglaterra.
Qual a sua formação?
Fui para o exército e depois quando estava na área do banking fiz um MBA em Business e administração.
Como se sentiu ao assumir o cargo do grupo Taylor’s?
Uma grande responsabilidade porque é uma empresa com mais de 300 anos de história, que é conhecida em todo o mundo pela sua qualidade. Eu precisei da convicção de que podia ajudar e guiar a empresa do ponto de vista da sua evolução. Atualmente, tenho a sensação que sou responsável por 1.350 colaboradores.
Vinha preparado para assumir o cargo?
Fui convidado pelo meu sogro e, obviamente, analisámos bem isso porque é uma opção de vida para mim e também para a minha esposa, que já viveu cá em Portugal.
Como foi a sua adaptação a Portugal?
É um país que beneficia de uma transformação enorme e, atualmente, eu vejo Portugal como um país com muito mais potencial e que vai surpreender as pessoas. As pessoas queixam-se que há muitos turistas, mas é com o turismo que temos a recuperação da cidade.
Considera-se ambicioso?
Eu sou uma pessoa que aceita desafios, que tem foco e quer fazer coisas. Eu acredito e faço com toda a minha força. O Adrian é teimoso e não abandona projetos.
Quais os seus hobbies?
Gosto do campo e de escalar montanhas porque é desafiante, precisa de planeamento, precisa de foco, mas tenho também a sensação de que quando chego ao pico e vejo o nascimento do sol acima dos Alpes, são vistas incríveis.
Enquanto profissional, qual seria o seu projeto de sonho?
Este projeto do WOW ainda não está feito. A realidade é que este é um projeto que ainda está na sua fase de estabilização e vai precisar de foco para que as pessoas, no fim, acreditem que foi com boa sorte. É um projeto que ainda está em construção e realisticamente acho que só atinge a estabilidade em 2027/2028. Esperamos que nessa altura o Bearsly esteja aberto, a expansão do Vintage House esteja feita, e que o nosso projeto de vinho de mesa esteja em distribuição mundial, porque comprámos a empresa com 97% das suas vendas em mercado nacional, e a expansão implica chegar a partes do mundo que não sabem onde é a Bairrada ou o Dão.
Por Diana Fonseca. Fotos @Raquel Wise.
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