Embora o otimismo seja sempre o melhor “escape” na crise sem precedentes, a “preocupação” é o sentimento mais presente nas empresas que não sabem como e quando será o recomeço. É o caso de todas as que trabalham no incoming, como a CITUR que, desde o dia 16 de março, está com zero de faturação.
Estar o mais “próximo possível dos clientes, reagendar reservas, fazer remarcações, enviar e-mail marketing, participar em workshops ou webinars” tem sido o plano da CITUR, no sentido de “manter os canais de distribuição e de contactos abertos e ativos”. Quem o diz é João Luís Moita, o diretor-geral da empresa, na segunda edição das “Tourism Talks”, promovida, esta sexta-feira, pela Message In a Bottle.
Depois da crise de 2008, a CITUR tem apresentado “níveis satisfatórios de desempenho”, conseguindo “atingir e superar as metas pré-estabelecidas”, afirma o responsável, acrescentando que, mesmo Portugal, tem recebido uma “fantástica” notoriedade. “A oferta turística, no que concerne aos seus agentes económicos, capacidade hoteleiras, restauração, transportes ou formações, cresceu exponencialmente e não foi destruída”, diz, evidenciando que o “nosso destino está cá”. É claro para João Moita que a retoma das Destination Management Company (DMC) será demorada, começando, desde logo, pela dependência de terceiros como a abertura dos aeroportos, museus, restaurantes ou mobilidade: “Não podemos operacionalizar reservas nem comercializar nada”. Aquilo que se pode fazer é “prever cenários ou fazer planos trimestrais”, diz, considerando ser fundamental “estarmos preparados para sermos rápidos a reagir”.
“Sem a ajuda do Governo, é certo que as falências e o desemprego vão disparar”
Face à incerteza que existe relativamente à abertura de mercados emissores ou às infraestruturas que começarão a funcionar, João Moita tem uma certeza: “Nós necessitamos de ajuda e, desta vez, não é dos nossos parceiros de negócio; nós precisamos de ajuda dos nossos governantes, políticos e do país”. Se o turismo foi, nos últimos anos, o motor da economia de Portugal, e agora com empresas com faturação a zero, o responsável reforça a necessidade de “recursos financeiros significativos. Vamos necessitar de financiamento intensivo para não parar: sem a ajuda do Governo, é certo que as falências e o desemprego vão disparar”. É precisamente nestes recursos que João Moita evidencia uma grande preocupação: “com a saída do lay-off e a operação estar negativa. Vamos continuar a dar prejuízos durante largos meses” pelo que é fulcral “prolongar” o apoio. Além do apoio ao incentivo, o diretor-geral da CITUR atenta na necessidade de uma maior “flexibilidade laboral”, numa maior “dinâmica de promoção e captação de grandes eventos e congressos, melhores custos do contexto ou a questão do IVA”, acreditando ser este o timing certo para se pensar nestes itens. Neste relançamento da economia, a política tem um “papel fundamental na retoma”, mas o responsável afirma que se está a “insistir nos mesmos modelos de financiamento”, considerando que o “dinheiro não deveria ser injetado no setor somente através da banca. Não funcionou na crise anterior e não está a funcionar nesta”. Para além disso, o incoming é uma área muito sazonal: “Os meses de novembro a março são de muito trabalho e preparação, mas ao nível de faturação representam muito pouco. Parámos na pior altura; na que estávamos a dar início à época alta”.
João Moita questiona o Governo no sentido de, “noutras crises do passado”, ter apoiado outros setores como “a agricultura ou a pesca”, e, na maioria das vezes, a “fundo perdido”, pelo que o turismo, sendo igualmente um setor tão ou mais forte, necessita de igual tratamento: “Se o turismo não retoma, o país também não. Isto afeta tudo e todos”, sublinha o responsável, alertando para a quebra de “muitos consumidores”, que afeta vários setores como os transportes, lojas de retalho, rent-a-car, restaurantes, eventos, vinho, etc. Embora o mercado nacional seja importante nesta primeira fase de retoma, o diretor-geral da CITUR diz que não é suficiente: “Não vamos aguentar. No Algarve, por exemplo, o volume de portugueses resume-se a agosto e fins-de-semana prolongados”. Além disso, muitos deles estão “sem salário” e já “gozaram férias” por imposição dos empregadores.
Em notas conclusivas, João Moita coloca muitas dúvidas nas linhas de crédito: “Não sei se a resolução de endividar resolve” o problema. “Há apoios e há fundos perdidos e, para nos aguentarmos até que haja retoma (que será lenta no turismo) e para que possamos criar produto turístico adaptado à realidade e aos dias de hoje, precisamos de capital”, sublinha, reforçando que as perdas serão enormes nesta retoma.
Quanto aos planos para o futuro, o responsável diz que “está na hora de se fazer qualquer coisa. Temos de aprender e a conviver com este vírus”, diz, salientando que o turismo é “resiliente e altamente profissionalizado”, capaz de se adaptar a novas realidades. Além disso, a imagem de Portugal lá fora não é das piores: “Com confiança e entreajuda, estou certo que o nosso setor e o país vão vencer esta situação que é realmente muito difícil”.