Saber o que pensam os principais profissionais e empresários do setor do turismo sobre o momento que se vive a nível mundial é o objetivo da Ambitur. Frédéric Frère, CEO da Travelstore, é um dos Conselheiros Ambitur a partilhar connosco a sua visão.
Que fatores/tendências europeias/mundiais identifica e parecem ser necessárias que os empresários nacionais acompanhem?
Como todos sabemos, desde há já vários anos, os empresários e gestores têm incorporado a obrigatoriedade de dispor de “antenas” cada vez mais atentas aos sinais de mercado e do mundo que os rodeia. O ciclo de vida dos conceitos e das propostas de valor tende a ser cada vez mais curto porque a tecnologia oferece uma agilidade e capacidade de transformação extremamente rápida.
A crise Covid veio ainda mais reforçar essa capacidade crítica porque está a provocar um fenómeno de aceleração brutal de um conjunto de tendências. Penso que se há uma tendência incontornável que os empresários devem endereçar com o maior dos cuidados, é a da digitalização da sociedade, com um enfoque particular na intervenção cada vez maior da dita Inteligência Artificial e da robótica.
Dito isto, há que ter em conta que as plataformas digitais e a robótica são meros instrumentos e que o objetivo final será sempre conseguir acrescentar valor ao cliente e que um dos valores que ele espera cada vez mais é o da personalização. O cliente valoriza imenso ser reconhecido e sentir que quem lhe presta serviço o conhece perfeitamente. Penso que a crise Covid irá também provocar uma enorme necessidade de humanização das relações, até diria de afeto. A crise sanitária obrigou ao distanciamento físico e à contenção dos afetos que os seres humano apreciam expressar no contacto entre eles e é de esperar que, uma vez a crise superada, quem souber bem endereçar esse aspeto sairá ganhador.
Considera ser necessária uma avaliação cuidada ao futuro dos fluxos turísticos europeus e mundiais, devido ao atual contexto? Em que sentido?
Acho que a conjuntura atual não nos permite infelizmente realizar previsões e tirar conclusões sobre a evolução dos fluxos turísticos, tanta é a incerteza relativamente ao futuro de curto prazo e tanta é a volatilidade dos mercados. Há talvez um mercado que conseguimos controlar melhor que é o mercado doméstico, e isto apesar de todas as restrições que condicionam atualmente o consumidor, começando por aquela que está na sua cabeça que é a do medo. O medo não somente em relação ao risco sanitário mas também o medo em relação ao risco económico que poderá levar muitos consumidores nacionais a conter as suas despesas.
Há no entanto um aspeto positivo que nos deverá ajudar quando voltarmos a uma nova normalidade que é o facto de Portugal não só manter os seus atributos chave como provavelmente estes serem ainda mais apreciados por quem nos visita: a autenticidade, a simpatia das pessoas, o património e muitos outros.
Num contexto geoestratégico, e falando de turismo, com o atual contexto de pandemia, como se deve Portugal enquadrar?
Acho que o aumento muito significativo da tendência do teletrabalho deveria permitir que Portugal se posicione como sendo claramente um dos melhores países de Europa para eventualmente se viver e trabalhar à distância, seja numa base quase permanente, seja num formato temporário, atraindo, por exemplo, pessoas que permaneçam em Portugal só durante alguns meses do ano. Portugal poderia assim evidenciar de forma clara todas as valências que reúne para ir de encontro às necessidades e expectativas das novas “tribos” de “teletrabalhadores nómadas” que vão surgir. Quase todos os destinos recorrem aos mesmo argumentos para atrair visitantes e, por esse motivo, Portugal precisa de contar uma história diferente. A história – verdadeira – de um dos países mais seguros do mundo, oferecendo todos os ingredientes que proporcionam qualidade de vida aos seus residentes é certamente vencedora para se acolher mais visitantes de curta ao longa duração.
Parcerias internacionais por parte das empresas turísticas nacionais é um caminho a seguir?
Julgo que as parcerias internacionais são sempre muito interessantes – desde que saibamos escolher os parceiros certos – porque nos permitem aprender e assimilar “melhores práticas” e naturalmente alcançar mercados que sozinhos não conseguimos tão facilmente captar.
Nota: A Ambitur conta, desde março de 2020, com um conjunto de Conselheiros que partilham connosco as suas visões sobre questões da atualidade no setor do Turismo. Os nossos Conselheiros Ambitur são, neste momento: Jorge Rebelo de Almeida (CEO da Vila Galé), José Theotónio ( presidente da comissão executiva do Pestana Hotel Group), Manuel Proença (presidente do Grupo Hoti Hotéis), Miguel Quintas (CEO do Consolidador.com), Frédéric Frère (CEO da Travelstore), Vítor Filipe (presidente da TQ Travel Quality e ex-presidente da APAVT), Raul Martins (presidente da AHP e do conselho de administração do Grupo Altis), Francisco Teixeira (CEO da Melair Cruzeiros), Luís Alves de Sousa (sócio gerente do Hotel Britania e ex-presidente da AHP), Bernardo Trindade (administrador do PortoBay Hotels & Resorts e ex-secretário de Estado do Turismo), José Lopes (diretor da easyJet em Portugal), Eduardo Jesus (secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira), Francisco Pita (CCO ANA Aeroportos), José Luís Arnaut (presidente-adjunto da Associação Turismo de Lisboa), Cristina Siza Vieira (presidente executiva da AHP), Mafalda Bravo (Country Manager Portugal Ávoris) e Maria João Rocha de Matos (diretora geral FIL e CCL).